Os perímetros de rega públicos representam 75% da área de regadio no Sul da Europa e são um caso de sucesso de gestão democrática das águas públicas. As federações de regantes de Portugal, Espanha e Itália defendem a necessidade de maior investimento na modernização do regadio público no âmbito da PAC e do Programa Europeu de Recuperação e Resiliência.
As federações de regantes de Portugal (FENAREG), Espanha (FENACORE) e Itália (ANBI) participaram num webinar na Ovibeja, a 23 de Abril,sobre “Utilização e gestão de perímetros de rega públicos- experiências europeias”, onde defenderam a necessidade de maior investimento nos aproveitamentos hidroagrícolas públicos, que gerem a água de forma democrática, num modelo participativo onde todos os agricultores têm uma palavra a dizer.
Em Portugal, as associações de regantes gerem os aproveitamentos hidroagrícolas que abastecem 40% da área total de regadio (249 mil hectares), no entanto, mais de metade destas infraestruturas públicas têm mais de 40 anos de idade, carecendo de investimento urgente para melhorar a eficiência do uso da água e da energia na agricultura.
«A gestão coletiva das infraestruturas facilita a operação das redes, a monitorização da qualidade e quantidade da água utilizada e induz melhorias da qualidade da água e aumento de eficiência na sua utilização», afirmou José Núncio, presidente da FENAREG, citando o PEPAC-Plano Estratégico da PAC e recordando o compromisso assumido pela Ministra da Agricultura com a continuidade dos apoios ao regadio público com financiamento a 100% nas estruturas coletivas.
Recorde-se que a FENAREG apresentou, na passada semana aos deputados da Comissão Parlamentar de Agricultura e Mar, a sua proposta de Estratégia Nacional para o Regadio, contemplando um forte compromisso com a economia da água, através da modernização das infraestruturas de rega, considerando prioritárias as intervenções em construções anteriores a 1990.
A FENAREG estima que será necessário investir 1.700 milhões de euros, até 2027, em três eixos estratégicos – resiliência, eficiência e sustentabilidade – de desenvolvimento do regadio, um setor essencial ao reforço da soberania alimentar de Portugal.
Por seu turno, o presidente da FENACORE – Federacion Nacional de las Comunidades de Regantes de Espanha, Andrés Del Campo, revelou na Ovibeja que em Espanha há 1 milhão de hectares de regadio público que precisam de obras de modernização e defendeu maior investimento no setor através de fundos da “bazuca europeia”.
A congénere italiana Associazione Nazionale Consorzi di Gestione e Tutela del Territorio e Acque Irrigue, que fornece água a 3,5 milhões de hectares de regadio em Itália, sublinhou no webinar a importância da «aposta na inovação como ferramenta para superar os conflitos na partilha do uso da água, porque as alterações climáticas exigem que pensemos as infraestruturas de forma diferente», disse Maximo Gargano, presidente da ANBI, dando o exemplo das 76 centrais de produção de energia fotovoltaica geridas pelos regantes italianos.