Algas na agricultura: saiba como utilizá-las como fertilizantes naturais do solo
Neste artigo partilhamos algumas formas de como poderá utilizar as algas na agricultura e nos seus cultivos e tirar partido das suas propriedades fertilizantes e assim substituir e diminuir o uso de fertilizantes químicos.
As algas na agricultura:saiba mais
As algas são fertilizantes naturais do solo, principalmente pela sua capacidade de fixar azoto e evitar o uso de fontes de azoto sintéticas. Como sabe, o azoto é um dos nutrientes mais limitantes e caros na agricultura. E, muitas vezes, os fertilizantes sintéticos à base de azoto, não são absorvidos pelos diferentes cultivares sendo perdidos para o ambiente de diversas formas.
Ora, as algas, particularmente, as cianobactérias são capazes de fixar o azoto e de o fornecer diretamente às plantas através da mineralização da sua biomassa (processo que ocorre com a sua degradação natural).
Sabia que, no Reino Unido, era prática comum misturar as algas com areia, deixá-las a deteriorar e depois cavar juntamento com a terra para obter solos mais ricos em nutrientes?
Já em regiões mais tropicais, o sargaço era utilizado para fertilizar o solo quer diretamente, ou seja, molhado, quer após seco pelo sol, por isso também pode usar as algas que encontra na praia para aumentar a fertilidade do seu solo, caso seja essa a tua necessidade.
Além disso, ao aproveitar as algas nos nossos cultivos estamos a contribuir para uma melhor gestão e escoamento das algas junto às zonas costeiras, pois a acumulação de algas leva muitas vezes à eutrofização das águas responsáveis por criarem desequilíbrio nos ecossistemas circundantes.
De entre os métodos de utilização das algas, a compostagem de algas é um dos métodos mais utilizados no aproveitamento das algas para melhoramento do solo.
Um estudo realizado em tomate (Licopersicon esculentum) revelou que a aplicação da matéria resultante da compostagem de algas resultou na maior produção e tamanho dos frutos para além de ter melhorado a resistência a doenças comparando com os tomateiros que foram plantados em solo normal.
Neste estudo a compostagem foi realizada com uma mistura de algas verdes e castanhas e material lingo-celulósico (cascas de árvores, aparas de madeira e serrim) num rácio 3:1 (por exemplo, 3 kg de algas e 1 kg de material lingo-celulósico).
A mistura foi colocada em pilhas e revolvida semanalmente durante os primeiros 60 dias de compostagem e deixado a compostar durante 9 meses. Após este tempo de compostagem, 5 kg por m2 da biomassa de algas compostada foi misturada com o solo onde os tomateiros foram plantados. O efeito positivo da aplicação destas algas na produção deveu-se ao aumento do pH do solo que aumentou a disponibilidade e fornecimento de fósforo e potássio aos tomateiros. Pode consultar o artigo na integra aqui em https://doi.org/10.1080/1065657X.2008.10702366.
Num outro estudo em espinafres, a aplicação foliar de um extrato de algas castanhas (Ascophyllum nodosum) após 4 e 6 semanas a seguir à semeadura fez aumentar em 15 % a produção de folhas comparado com os espinafres que não levaram tratamento. Neste estudo, o extrato líquido de algas for preparado por juntar 100 g de algas com 200 mL de água. Após mistura com a água, o extrato foi triturado e deixado em água durante 24 h, mexendo sempre que possível. Seguidamente, o extrato foi filtrado e aplicado nos espinafres aspergindo os mesmos. Artigo completo aqui DOI: 10.1515/botm.1992.35.5.437.
O uso de cianobactérias também é uma prática comum na agricultura. Num estudo realizado em arroz, cianobactérias colhidas de lagos como indicado na figura abaixo, foram colocadas em água e aplicadas no solo de cultivo de arroz. Verificou-se que o solo regado com as cianobactérias continha mais azoto e fósforo orgânico livre que o solo que tinha sido regado só com água, resultando numa produção de arroz melhor e mais abundante e resistente. Artigo completo aqui https://doi.org/10.1007/BF00007885.
Em alface, também foi demonstrado que a aplicação de microalgas (Chlorella vulgaris), isoladas de um rio, no solo (aplicando 2-3 g de alga por kg de solo) promoveu uma maior rapidez na germinação das sementes e também levou a uma maior produção de alfaces. Sabe mais em https://www.semanticscholar.org/paper/Effect-of-Chlorella-vulgaris-as-bio-fertilizer-on-Faheed-Fattah/a33f6d3372cb73a34a37b095ecdd0482fa09fbd6.
Um outro estudo muito interessante revelou a vantagem de germinação do feijão frade em meio com extrato de algas. O extrato de algas foi obtido fervendo 1 kg de algas num litro de água durante 1 h. Depois de ferver, juntou-se 1 parte do extrato para 4 partes de água. Por exemplo, juntou-se 20 mL de extrato de algas com 80 mL de água. Seguidamente, colocaram-se as sementes de feijão a germinar nesta mistura e verificou-se a maior rapidez de crescimento de germinação e maior nutrição das sementes crescidas neste meio. Poderá saber mais aqui doi.org/10.1016/j.biortech.2005.06.016
A aplicação das algas na agricultura na fertilização dos solos pode ser feita de diversas formas e com variados efeitos que contribuem para um melhoramento da performance produções agrícolas. Podem ser aplicadas quer na forma sólida quer na forma líquida. Atualmente, farinhas de algas marinhas e algas em forma líquida já são comercializadas prontas para aplicação nos solos de cultivo e também nos jardins de casa, sendo que as algas mais utilizadas na agricultura são as algas castanhas.
A diversidade de algas ainda está muito inexplorada e oferece inúmeras possibilidades para expandir o seu uso como recurso renovável na agricultura. Para além de serem uma solução sustentável para produção agrícola, são também fontes alternativas para fertilizantes do solo, enriquecendo as plantas com macro e micronutrientes que fornecendo proteção e restauração nutritiva do solo.
Para consolidar os seus conhecimentos sobre a aplicação de algas na agricultura leia também um artigo relacionado aqui.