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Women farmers are researching the soil.

A Correção do pH do Solo: Um Fator Decisivo para a Rentabilidade das Culturas

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Na agricultura profissional, cada detalhe do “maneio” cultural conta. Um dos fatores mais determinantes, mas muitas vezes negligenciado, é o pH do solo. Este parâmetro
influencia diretamente a disponibilidade de nutrientes, a atividade microbiana, o
desenvolvimento radicular e, consequentemente, a produtividade das culturas.
Um agricultor pode investir em fertilizantes, rega e controlo de pragas, mas se o pH do
solo não estiver no intervalo adequado, grande parte desse investimento perde
eficiência.

Neste artigo vamos aprofundar:
-a importância do pH na disponibilidade de nutrientes,
-os intervalos ideais de pH para diferentes culturas,
-métodos de análise e monitorização,
-e as estratégias mais eficazes para corrigir solos demasiado ácidos ou alcalinos.

Porque é que o pH é tão importante?

O pH do solo regula a solubilidade e absorção dos nutrientes. Valores fora do intervalo adequado podem bloquear elementos essenciais:

  • Solos ácidos (pH < 6,0) – baixa disponibilidade de cálcio, magnésio, fósforo e molibdénio; risco de toxicidade por alumínio e manganês.
  • Solos alcalinos (pH > 7,5) – défice de ferro, zinco, cobre, manganês e fósforo, mesmo que estejam presentes no solo.

Além disso, o pH afeta a atividade biológica: microrganismos benéficos, responsáveis pela mineralização da matéria orgânica, são mais ativos em solos neutros a ligeiramente ácidos.

Em termos de produtividade, um desvio do pH pode significar perdas de rendimento superiores a 30%, mesmo em culturas bem adubadas.

Intervalos ideais de pH por grupo de culturas

 

Como analisar o pH do solo

Na agricultura profissional não basta um teste rápido de campo. O recomendado é:

  1. Recolha de amostras compostas – 15 a 20 pontos por talhão em zigue zague, até 20 cm de profundidade (ou mais em culturas permanentes).
  2. Envio para laboratório credenciado – análise de pH em água e em KCl, acompanhada de macronutrientes e micronutrientes.
  3. Repetição periódica – no mínimo de 3 em 3 anos em culturas permanentes, anualmente em hortícolas de regadio.

Um pHmetro portátil pode ser útil no dia a dia, mas nunca substitui uma análise laboratorial completa.

Estratégias de correção do pH

A escolha da técnica depende da intensidade da correção necessária, da cultura instalada e do horizonte temporal da exploração.

Correção de solos ácidos

  • Calcário agrícola (carbonato de cálcio ou dolomite)
    • Método mais usado. A quantidade é calculada com base na análise laboratorial e na textura do solo.
    • Em solos argilosos, a dose é superior porque têm maior capacidade tampão.

Algumas notas importantes:

O Carbonato de Cálcio (CaCO₃) é um mineral natural muito comum, presente em rochas como o calcário e o mármore, mas também em conchas e corais.

Forma-se quando o óxido de cálcio (CaO) reage com o dióxido de carbono (CO₂). É uma substância alcalina e estável, usada em várias áreas.

O Biocal simples é um corretivo agrícola mineral, feito a partir de carbonato de cálcio que permite uma eficaz correcção do pH do solo, quando este se encontra excessivamente ácido. Rico em cálcio, um macronutriente essencial para o bom desenvolvimento das culturas.

Biocal Simples

  • Cinza de madeira – alternativa em pequena escala, mas pouco prática em agricultura intensiva.
  • Aplicação – preferencialmente incorporada 3 a 6 meses antes da instalação da cultura.

Correção de solos alcalinos

  • Enxofre elementar
    • Oxidado por bactérias a ácido sulfúrico, reduz o pH.
    • Aplicação gradual, efeito visível após meses.
  • Sulfato de ferro ou de alumínio
    • Eficaz mas mais caro; indicado em pequenas áreas ou culturas de alto valor.
  • Matéria orgânica (composto, estrume, agulhas de pinheiro)
    • Acidificação lenta, mas fundamental para melhorar a estrutura e a atividade biológica.

Fatores a considerar na correção

  • Capacidade tampão do solo – solos argilosos e ricos em matéria orgânica resistem mais às alterações, exigindo maiores doses de corretivos.
  • Cultura instalada – nem sempre é viável corrigir totalmente o pH; pode ser preferível escolher variedades mais tolerantes.
  • Custo-benefício – aplicar enxofre ou calcário em excesso pode ser economicamente inviável; a estratégia deve equilibrar produtividade e rentabilidade.
  • Monitorização contínua – a correção deve ser acompanhada com análises periódicas, evitando oscilações bruscas.

Monitorização contínua do pH do solo

Corrigir o pH do solo não é uma ação única e definitiva. O pH pode variar ao longo dos anos devido a:

  • uso de fertilizantes ácidos (como os azotados),
  • lixiviação provocada pelas chuvas,
  • tipo de rega utilizada (algumas águas de rega são alcalinas),
  • adições regulares de matéria orgânica.

Por isso, é fundamental avaliar o pH periodicamente:

  • Em culturas permanentes (pomares, vinha, olival) deve ser analisado de 3 em 3 anos.
  • Em hortícolas de regadio recomenda-se uma análise anual.
  • Sempre que se muda a cultura ou se instalam novas áreas de produção, deve ser feito um teste prévio.

Desta forma, o agricultor garante que o solo mantém as condições ideais e que o investimento em corretivos e fertilizantes continua a ser eficaz.

Em suma

A gestão do pH do solo é uma das práticas mais estratégicas para garantir produtividade e sustentabilidade em explorações agrícolas profissionais. Um pH equilibrado não só maximiza a eficiência dos fertilizantes, como também favorece a saúde do solo e das culturas.

Ignorar este parâmetro é desperdiçar potencial produtivo e investimento. Pelo contrário, medir, corrigir e monitorizar o pH é uma forma inteligente de aumentar a rentabilidade e a resiliência da exploração agrícola.

No fundo, o agricultor que controla o pH do solo controla o sucesso das suas culturas.

Artigo patrocinado pela Biocal*

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