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A agricultura biológica na Europa: um retrato

Autora do artigo: Sara Sousa, Agroop

Já todos sabemos que os alimentos biológicos são cada vez mais populares – seja do lado do consumo ou do lado da produção.
E os países da União Europeia não são exceção. Aliás, pelo contrário: a UE é a segunda maior consumidora de alimentos orgânicos em todo o mundo, com 34,5 mil milhões de euros em vendas em 2017.
Estes e outros dados, revelados num novo relatório da Comissão Europeia, pintam um retrato completo da agricultura biológica na região.

Ovos são o produto biológico mais vendido

Na UE, os ovos têm a maior quota de mercado em retalho, no que toca a alimentos biológicos. Em certos países, este produto tem mesmo uma penetração “excecionalmente elevada”: 33% na Dinamarca e 30% em França. E os números continuam a crescer.
Os frutos e legumes biológicos também representam uma “história de sucesso da agricultura biológica,” segundo o relatório.
Os produtos orgânicos que atraem menos os consumidores são a carne (embora as vendas desta estejam a crescer) e bebidas (com exceção do vinho).

Produção agrícola biológica cresceu 70% nos últimos 10 anos

70%: foi quanto aumentou a produção agrícola biológica na UE na última década.
Em 2017, a área agrícola biológica na UE chegou aos 12,6 milhões de hectares, o que representa 18% da área agrícola biológica global e 7% de toda a terra agrícola na UE.
Como seria de esperar, não há uniformidade entre os vários países da União. Mais de metade da área orgânica da região está concentrada em quatro países: Espanha, Itália, França e Alemanha.

Agricultura orgânica é menos eficiente no uso de recursos

As explorações de produção biológica têm quase o dobro do tamanho das explorações convencionais (30 hectares médios contra 17). “Tal pode dever-se aos sistemas de produção extensivos e baseados em pastagens que dominam na agricultura orgânica,” salienta o documento.
Por outro lado, o modo de produção agrícola tem muito menos rentabilidade do que o modo de produção convencional. Este contraste é maior em culturas como o trigo e o milho.
No entanto, diz o relatório, “a menor rentabilidade parece ser contrabalançada por preços mais altos.” E dá o exemplo da Alemanha, onde produtores de trigo biológico conseguiram vender a produção por preços 150% mais elevados que os do trigo convencional.
Os autores do relatório defendem ainda que a pesquisa e inovação podem ajudar a melhorar a rentabilidade da produção biológica, uma vez que se observa que a rentabilidade é muito afetada por fatores como o local, as práticas agrícolas usadas ou a cultura.

2% dos produtores desiste da agricultura biológica

Embora a produção biológica na UE tenha vindo a aumentar, pelo menos 2% dos produtores têm vindo a desistir anualmente da agricultura biológica nos últimos cinco anos. Alguns destes voltam à produção convencional, enquanto que outros se reformam.
Os principais motivos para voltar à agricultura não-biológica parecem ser o custo elevado e as restrições à produção – “especialmente em maus anos de colheita.”
Outras razões são a falta de procura local por alimentos biológicos, a burocracia e os custos da certificação.

Supermercados são o principal canal de distribuição (mas Portugal foge à regra)

Onde é que os consumidores da UE compram alimentos biológicos? Em muitos dos países (como a Dinamarca e a Suécia) o retalho convencional – ou seja, supermercados – domina a distribuição.
Mas não é assim para todos. Em Portugal e na Espanha, “a distribuição é feita primariamente por canais especializados, nomeadamente lojas especializadas em produtos biológicos,” segundo o relatório.
O que motiva isto? É simples. Em Portugal e Espanha, os alimentos orgânicos ainda são vistos como um mercado de nicho “com um estatuto exclusivo.” Daí a sua distribuição a menor escala e em lojas mais pequenas.
Já em nações como a Suécia, os alimentos biológicos representam um papel importante na alimentação e, assim, estão amplamente disponíveis no grande retalho.

Pastagens à frente, vinho biológico em crescimento

Em 2016, a maioria da área de agricultura biológica na UE (44%, 5,6 milhões de ha) consistia em pastagens. Estas destinam-se sobretudo a produção orgânica de gado (para leite e carne).
Logo a seguir, surgem a forragem verde, a ocupar 17% da área biológica; os cereais (16%) e as culturas permanentes (11%).
Dentro das culturas permanentes, dominam os frutos e o vinho. Este último é apontado mesmo como uma “história de sucesso” na agricultura biológica, uma vez que tem registado forte aumento da procura e apresenta margens de lucro altas.

Legislação: que mudanças em 2021?

Dentro de dois anos, vai entrar em vigor uma nova legislação comunitária sobre a produção biológica.
O objetivo será “harmonizar as regras para todos os agentes,” especificamente no que toca às importações. Os bens importados passarão a ter que obedecer às mesmas regras aplicadas na UE.
A nova legislação prevê ainda reduzir os custos de certificação para produtores e o cargo administrativo.

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