Artigo adaptado da Circular nº 17 de 2019, da Estação de Avisos de Entre Douro e Minho.
Esta circular, bem como edições anteriores, pode também ser consultada e descarregada em:
1 – www.drapn.pt
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Enrelvamento: tudo o que deve saber
Os enrelvamentos ou revestimentos, devem ser semeados no início do outono, antes das chuvas do Equinócio (22 de setembro), preparando cuidadosamente o terreno:
- lavoura pouco profunda;
- preparação cuidadosa da “cama” para as sementes;
- sementeira a lanço;
- passagem de rolo, para aconchegar a semente;
As técnicas de manutenção do solo, de que fazem parte os enrelvamentos, procuram criar as melhores condições para o desenvolvimento das plantas cultivadas, controlar as infestantes, prevenir a erosão, manter a humidade do solo, fixar nutrientes como o azoto, fixar e aumentar as populações de artrópodes (insetos e ácaros) auxiliares.
Estas técnicas podem dividir-se em dois tipos fundamentais: mobilização ou não-mobilização.
Atualmente procura-se adotar uma mobilização mínima do solo e a sua cobertura, de preferência permanente, gerindo a vegetação natural, semeando enrelvamentos, cobrindo o solo parcialmente com estilha, plástico, etc..
A mobilização regular tem alguns inconvenientes, como:
- destruição das raízes superficiais das árvores e videiras compactação do solo pelas rodas dos tratores;
provocar a queda de folhas e frutos, à passagem das máquinas; - lesões nos troncos e ramos baixos, à passagem das máquinas e alfaias;
- disseminação das infestantes vivazes;
- favorecimento das infestantes anuais;
- aumento da erosão;
- destruição da matéria orgânica e da estrutura do solo;
As diversas práticas de não-mobilização incluem a aplicação de herbicidas. As desvantagens da aplicação de herbicidas incluem:
- o custo
- a contaminação das águas de superfície e subterrâneas
- o perigo de fitotoxidade para as árvores de fruto, videiras e outras culturas
- o surgimento de resistências das infestantes aos herbicidas
- a diminuição da biodiversidade e dos auxiliares
- a compactação e erosão do solo.
O enrelvamento, sendo corretamente instalado e mantido, pode prevenir e evitar o desenvolvimento de infestantes, melhorar a estrutura do solo e contribuir para a sua proteção e conservação.
A prática do enrelvamento contribui para a fixação e aumento das populações de insetos e ácaros auxiliares, com ação muito positiva na diminuição das populações de pragas das culturas.
O enrelvamento contribui também para a existência permanente de boas condições para a entrada das máquinas no terreno.
O enrelvamento tem duas modalidades básicas – a manutenção do coberto vegetal de ervas
espontâneas (flora residente) e a sementeira de uma ou mais espécies herbáceas (enrelvamento).
Um coberto natural pode ser complementado e enriquecido com a sementeira de uma ou mais espécies cultivadas, da mesma forma que se devem tolerar as infestantes que nascem no enrelvamento.
O enrelvamento deve cobrir o espaço da entrelinha, deixando o espaço da linha livre de ervas.
O solo da linha pode ser mantido por limpeza mecânica ou cobrindo-o, por exemplo, com estilha de madeira ou palha traçada (mulching), que dificultarão o crescimento das infestantes. Em alternativa, pode ser aplicado um herbicida, de forma localizada e cuidadosamente, para evitar derivas do herbicida, que podem prejudicar as videiras ou culturas nas imediações.
Também se pode optar por enrelvar toda a superfície da cultura, enrelvar linhas alternadas com mobilização, etc..
Podem ser utilizadas consociações de gramíneas e leguminosas (ferrãs, azevéns, trevos, serradelas), de preferência com sementes de variedades regionais ou locais, melhor adaptadas às condições naturais locais.
Tem elevado interesse o enrelvamento permanente de vinhas e pomares com trevomorango (Trifolium fragiferum). Esta espécie é adaptada a todos os tipos de solos e possui grande plasticidade na adaptação às variadas condições
climáticas do país.
Podem ainda ser feitos enrelvamentos temporários, a semear no outono e a enterrar com uma mobilização de primavera.
Os enrelvamentos ou revestimentos temporários podem ser constituídos por trevos anuais, serradelas (Ornithopus sp.) ou tremocilhas (Lupinus luteus), recomendados para solos ácidos, como é a maioria dos solos da Região.
Todas estas leguminosas, semeadas como revestimento no outono, protegem o solo da erosão durante o inverno e quando forem enterradas na primavera, com uma lavoura, fornecerão ao solo uma quantidade apreciável de azoto.