Já partilhei em tempos que a minha dissertação de mestrado em Engenharia Agronómica estudou a “Avaliação da produção e utilização da soja nas condições de produção da região de Entre Douro e Minho“. Dado que sempre que falo sobre o assunto gera sempre muita curiosidade, neste artigo partilho convosco os aspetos que considero fundamentais sobre a cultura da soja que devem ter em conta.
Taxonomia, origem e morfologia da cultura da soja
A soja, Glycine max (L.) Merrill, pertence à família Fabaceae e é originária da China. Atualmente é amplamente cultivada em todo o mundo e utilizada na alimentação humana e animal. Trata-se de uma planta herbácea, de clima quente, anual, podendo a duração do seu ciclo oscilar conforme as variedades entre 100 a 160 dias.
O caule caracteriza-se por ser herbáceo, ereto, pubescente e ramificado com uma altura que pode variar entre 0,30 a 1,50m, conforme a variedade selecionada.
As plantas de soja possuem folhas de três tipos: cotiledonares, primordiais (lâminas simples) e folhas compostas trifoliadas que são as que caracterizam as plantas de soja.
Relativamente ás flores, estas são completas, isto é, possuem perianto e órgãos sexuais na mesma flor. É uma planta de autofecundação e as inflorescências nascem nas axilas das folhas, ou por vezes no ápice do caule.
A semente apresenta tamanho, cor e forma peculiares conforme a variedade selecionada e pode variar em número de 1 a 4 sementes por vagem .
A raiz caracteriza-se por ser axial, de onde partem as raízes secundárias que se ramificam formando um sistema axial fasciculado. A composição do grão de soja depende de diversos fatores, nomeadamente o tipo de cultivar, a localização geográfica, condições ambientais e época de sementeira .
O grão é constituído, essencialmente por 8% de casca, 90% de cotilédones e 2% de hipocótilo. Em termos de composição química, cerca de 60% do peso seco do grão é constituído por óleo (20%) e 40% por proteína, para além do elevado conteúdo mineral e vitamínico.
O ciclo da cultura da soja
Com a finalidade de obter o máximo de rendimento possível com a cultura da soja, é importante que o produtor perceba como a soja cresce e se desenvolve. Os seus estádios de crescimento e posteriormente desenvolvimento ocorrem durante várias semanas, sendo muitos os fatores externos que podem afetar a produção final desta cultura.
Fatores como a humidade e tipo de crescimento (determinado ou indeterminado) podem ter uma influência significativa na entrada de uma planta de soja na floração e/ou posteriormente na fase de enchimento dos grãos . Para determinar o estádio de crescimento em que a planta se encontra, deve-se considerar que o campo de soja está em determinado estádio quando apenas 50% ou mais das plantas se encontra no estádio fenológico considerado. A escala criada por Fehr e Caviness (1977) permite determinar os estádios fenológicos, das plantas de soja, que se tornou indispensável para uma correta condução da cultura.
Exigências edafo-climáticas da cultura da soja
O potencial rendimento da cultura da soja é determinado geneticamente e depende do efeito de fatores bióticos e abióticos em determinados momentos durante o ciclo da cultura. Este efeito pode ser minimizado pela adoção de práticas agrícolas adequadas. A soja apresenta características de alta plasticidade, adaptando-se facilmente às condições ambientais na sua envolvência bem como de maneio, através de alterações na morfologia da planta assim como nos componentes do rendimento. Estas alterações podem estar relacionadas com fatores como altitude, latitude, temperatura, disponibilidade hídrica, textura do solo, fertilidade do solo, radiação solar, época de sementeira, população de plantas e espaçamento entrelinhas, sendo essencial o conhecimento das interações entre estes fatores . É importante que o produtor conheça a planta e seus diferentes estádios de desenvolvimento, com a finalidade de poder avaliar o seu desempenho e consequentemente adotar práticas culturais adequadas nos estádios em que possa haver maior probabilidade da planta responder favoravelmente.
Fotoperíodo
A soja caracteriza-se por ser uma planta de dias curtos, pelo que entra em floração quando os dias diminuem. Contudo a sensibilidade ao fotoperíodo é dependente da cultivar, ou seja, cada cultivar possuí um fotoperíodo critico acima do qual a floração é atrasada. Deste modo, a sensibilidade da soja ao fotoperíodo é uma importante restrição para uma adaptação mais ampla desta cultura, sendo a escolha de cada cultivar feita em função da sensibilidade ao fotoperíodo.
Temperatura
A temperatura é um fator ambiental importante que afeta o desenvolvimento, crescimento e consequentemente o rendimento da soja . As taxas de desenvolvimento das plantas de soja aceleram quando as temperaturas aumentam até à temperatura ótima ou diminuem quando esta temperatura ideal é ultrapassada . A soja adapta-se melhor a regiões onde as temperaturas oscilam entre os 20 e 30ºC, sendo que 30ºC é considerada a temperatura ideal para o seu desenvolvimento.
Radiação Solar
A soja por ser classificada como planta C3 é menos eficiente na utilização da energia solar e água, apresentando-se por isso em desvantagem quando comparada com as plantas infestantes que entram em competição com as plantas de soja pelos recursos essenciais à sua sobrevivência.
Densidade das plantas
O crescimento e a reprodução são influenciados pela distribuição espacial das plantas no terreno que estão diretamente relacionados com as densidades de sementeira utilizadas. As plantas de soja caracterizam-se por terem uma grande plasticidade, que se caracteriza por ser a capacidade das plantas alterarem a sua morfologia regulando o seu crescimento, adaptando-se a diferentes número de populações de plantas. Para quem estiver interessado na produção desta cultura, recomenda-se semear a soja em fileiras ou linhas espaçadas de 40 a 60 cm. Espaçamentos abaixo deste valor (<40 cm) resultam em fecho mais rápido da cultura, contribuindo para o controlo das plantas infestantes. No entanto apresentam a desvantagem de não permitirem o cultivo mecânico nas entre -linhas, o que pode representar um entrave para o controle das plantas infestantes.
Tipo de crescimento
O tipo de crescimento das plantas de soja pode ser indeterminado e determinado. As variedades indeterminadas caracterizam-se por continuarem a crescer vegetativamente várias semanas após o início da floração, verificando-se na maioria das vezes a duplicação da sua altura depois do aparecimento das primeiras flores . Pelo contrário, a maioria das variedades de crescimento determinado completam o seu crescimento vegetativo antes do início da floração.
Fertilização da cultura
Os requisitos nutricionais da cultura da soja apresentam-se como moderadamente elevados quando comparados com outras culturas como o milho, consumindo por essa razão mais fósforo, potássio, magnésio e cálcio. As plantas de soja possuem um sistema radicular forte que lhes permite usar os nutrientes do subsolo de forma muito eficiente, devendo os fertilizantes a utilizar colocados a cerca de 10 a 15 cm abaixo ou ao lado da semente.
A rotação da cultura da soja com outras culturas altamente fertilizadas assim como a inoculação da semente antes da sementeira podem ser soluções eficazes para minimizar a proporção de nutrientes a ser adicionada ao solo e consequentemente reduzir impactos ambientais e custos a estas práticas agrícolas associadas. Em zonas onde os níveis de fertilizantes são muito baixos, estes devem ser aplicados antes da sementeira.
Rega
A soja quando comparada com o milho, é menos exigente em termos de disponibilidade de água e caracteriza-se por ser mais resistente a condições de secura.
A necessidade de água na cultura da soja vai aumentando com o desenvolvimento da planta, atingindo o máximo durante a floração (R1) até à fase de enchimento dos grãos (R6), decrescendo após esse período . Durante os estádios fenológicos R1-R3, tanto o excesso como a falta de água são fatores prejudiciais ao estabelecimento da cultura e à obtenção de uma boa uniformidade na população de plantas, sendo o excesso de água mais prejudicial que a sua carência no terreno.
Pragas e doenças
Durante o crescimento vegetativo, a cultura pode ser atacada por lagartas mineiras, que se apresentam como as pragas mais frequentes, e que atacam principalmente as folhas, alimentando-se delas não sendo controladas. No que diz respeito às doenças, as plantas de soja são suscetíveis a várias doenças virais e fúngicas causadas por diferentes organismos. Uma das doenças mais frequentes é a ferrugem.
Colheita
Um dos principais objetivos no momento da colheita é minimizar as perdas observadas neste momento, conseguindo dessa forma rendimentos superiores e consequentemente lucros cada vez mais substanciais para o produtor de soja .Um ajuste inadequado do equipamento de colheita e/ou uma colheita tardia das plantas( vários dias após as plantas terem atingido a maturação plena) podem contribuir para perdas significativas de rendimento da colheita ( cerca de 10% ou em alguns casos superior). Para grão, a soja deve ser colhida no estádio fenológico R8.