Autor do artigo:
Mário Picoto Pereira, Engenheiro da Produção Animal
email:[email protected]LinkedIn – www.linkedin.com/in/mário-picoto-pereira-35781114b
“A transformação de subprodutos agroalimentares pode gerar valor, pode alimentar uma outra cadeia produtiva, os animais de produção”
Antes de mais quero saudar os presentes leitores do blog.
A economia circular e o estudo das matérias-primas principais e dos seus subprodutos com destino ao consumo animal serão a linha orientadora desta minha participação enquanto Eng. Da Produção Animal mas, acima de tudo, enquanto cidadão comum com responsabilidades ecológicas quanto ao habitat que partilhamos como seres humanos inseridos em comunidade com direitos mas, principalmente, com inúmeros e importantes deveres coletivos.
A Economia Circular
O que é?
Todos os anos, na União Europeia produzem-se cerca de 2,5 mil milhões de toneladas de lixo. Há que travar e modificar o conceito de uma economia linear para uma economia circular.
A economia circular é um modelo de produção e de consumo que tem presente a partilha, a reutilização, a reparação e a reciclagem de produtos existentes, alargando ou modificando o prazo de vida dos mesmos.
O aumento da população, a procura e o esgotamento dos recursos naturais têm vindo a despertar a necessidade das populações iniciarem uma meta mais sustentável, uma sociedade económica mais amiga do ambiente que garanta um desenvolvimento económico, melhores condições de vida e mais emprego.
Potencialidade e benefícios da Economia Circular
O modelo de economia circular visa fornecer benefícios de curto prazo e oportunidades estratégicas de longo prazo, perante alguns desafios como:
- Relações estratégicas e inovadoras com o cliente, programas de retoma e novas formas de negócio;
- Conservação da natureza, redução de resíduos e de poluentes atmosféricos, combatendo desse modo as alterações climáticas;
- Equilíbrio no preço das matérias-primas e subprodutos, limitando os riscos de fornecimento.
A produção de alimentos gera perdas ao longo da sua cadeia produtiva e distribuição, que se transformam muitas vezes em resíduos e/ ou subprodutos.
Calcula-se que cerca de 30% da produção alimentar a nível mundial é enviada para aterro ou compostagem, desperdiçando assim o teor nutritivo de muitos subprodutos que poderiam ter outra vida, outro valor, gerando mais emprego na sua transformação, aumentando a disponibilidade alimentar para outras cadeias de produção (animal) e assim, beneficiando o ambiente.
Economia Circular vs Alimentação Animal
A alimentação é a maior das despesas das explorações pecuárias. A agroindustria gera grandes quantidades de resíduos ou de subprodutos, na transformação ou manipulação das suas matérias-primas, (ex. Secagem de milho), que se podem transformar e gerar novos alimentos.
Esses subprodutos podem ser utilizados e administrados na alimentação animal (podendo ser misturados com algumas matérias-primas de melhor qualidade), uma vez estudadas as suas propriedades nutricionais e químicas e a sua eficácia na alimentação das várias espécies pecuárias.
A transformação destes resíduos/ subprodutos, de baixo custo, num alimento de alto valor biológico para o Homem permite:
- Aumentar a produção de carne, leite, ovos, lã de origem animal, para alimentação humana (um tema de extrema importância para dar resposta ao aumento exponencial da população);
- Melhorar a economia das explorações pecuárias, visto que a alimentação tem um peso financeiro muito elevado;
- Melhorar, em termos sociais e económicos, a qualidade de vida das famílias, aumentando o número de postos de trabalho e rentabilizando o desperdício agroindustrial, com a inovação e criação de novos produtos;
- Contribuir para o conceito inovador de economia circular, preservando e respeitando a sustentabilidade e assim os recursos naturais do planeta.
Para identificarmos os principais subprodutos que podem servir para transformação ou administração direta na alimentação animal, temos de identificar as principais matérias-primas produzidas para transformação, a quantidade de consumo, a estrutura a nível nacional e a utilização das mesmas a nível Europeu, para prever a quantidade de subprodutos que podem ser gerados.
Podemos começar por identificar o grupo dos cereais.
Matérias-Primas utilizadas
Cereais
No caso concreto dos cereais, pretende-se identificar as matérias primas principais, para que se possa estudar o valor nutricional dos seus subprodutos para administração em diferentes formas e espécies pecuárias.
Grãos de Cereais
- Aveia
- Centeio
- Arroz
- Cevada
- Milho
- Sorgo
- Trigo
- Triticale
- Cereais processados pelo calor
- Concentrados proteícos de cereais
Produtos e subprodutos de grãos de cereais
- Alimpadura de Trigo
- Trincas de Arroz
- Bagaço de Arroz
- Bagaço de Gérmen de Arroz
- Bagaço de Gérmen de Milho
- Drèches e Solúveis de Destilação de Trigo
- Drèches de Cevada
- Gritz de Milho
- Drèches e Solúveis de Destilação de Milho
- Farinha Forrageira de Milho
- Farinha Forrageira de Trigo
- Glúten de Milho
- Glúten Feed de Milho
- Glúten Feed de Trigo
- Radícolas de Malte
- Sêmea de Arroz
- Sêmea de Centeio
- Sêmea de Trigo
- Sêmea de Milho
- Casca de Arroz
Conclusões
A economia circular e a valorização de subprodutos da agroindustria poderá ser uma oportunidade de negócio quanto à criação de novos produtos, no que toca a alimentação animal, com inúmeros benefícios.
No futuro, a escassez de alimentos e de matérias-primas levará a população a criar novos alimentos. Através de uma união entre empresas e cooperativas e dos seus produtos, pode-se gerar e acrescentar valor com subprodutos diferentes e, assim produtos mais ricos nutricionalmente.
A grande limitação no desenvolvimento económico sustentado neste processo circular está na disposição da quantidade de subprodutos necessários. Outro fator negativo é a legislação restrita relativa à forma de valorizar e conservar novos ingredientes para garantir que o produto final seja valorizado no mercado com o devido retorno.
A economia circular, mais concretamente a valorização de subprodutos da agroindustria é de extrema importância, uma vez que é uma oportunidade para o desenvolvimento sustentado de novos produtos de valor acrescentado variável.
Assim sendo, as empresas agroalimentares devem estar atentas a este desafio, de forma a dar uma nova vida aos seus produtos, de forma sustentável.