Na proteção fitossanitária das culturas o uso de uma grande diversidade de produtos químicos é comum. Porém, para a aplicação de produtos fitofarmacêuticos para pragas, doenças e ervas daninhas ser bem-sucedido, existem diversos fatores que devem ser levados em conta.
A escolha do produto certo. O material ativo efetivo contra o parasita é de fácil identificação, mas é necessário ter em conta o perigo para a saúde e o meio ambiente, e também considerar os efeitos colaterais contra a fauna auxiliar. Utilização da dose apropriada para alcançar os resultados esperados, com uma aplicação tão homogénea quanto possível.
Escolha da maquinaria apropriada, de acordo com o produto a ser utilizado e o patógeno a ser combatido. O manuseamento e a regulação das máquinas devem ser realizados por pessoal qualificado.
O momento da aplicação está intimamente relacionado com ciclo do agente causador e com a cultura.
As condições ambientais devem ser as mais favoráveis possíveis para o tipo de produto a utilizar. Deve-se tentar reduzir ao mínimo o impacto das condições atmosféricas, por isso é aconselhável tratar na ausência de vento. Evite altas temperaturas e, consequentemente, a evaporação do produto.
Deve-se reduzir o número de impactos ou de gotas que incidem sobre as plantas. Desta forma, evitam-se problemas de fito toxicidade e o líquido caia no solo, reduzindo os problemas ambientais (alteração da camada superficial do solo, erosão, infiltração no solo e contaminação dos aquíferos).
Métodos gerais de aplicação de produtos fitofarmacêuticos
Os métodos de aplicação de produtos fitofarmacêuticos dependem da composição que sustenta o produto fitossanitário, sólido, líquido ou gasoso.
Os líquidos destacam-se pelo manuseamento mais fácil, aplicação e dosagem no campo. Existem os seguintes métodos de aplicação:
– Polvilhação. Distribuição de um pesticida em pó através de uma corrente de ar. Essa corrente, ao passar pelo tanque, transporta parte do produto e distribui-o pela planta.
– Pulverização. Distribuição de pesticidas em forma líquida, depositando-se na planta sob a forma de pequenas gotas.
– Nebulização. A nebulização é uma prática que consiste na aplicação de um inseticida na forma de micropartículas que são lançadas numa névoa ou fumo produzida por um equipamento nebulizador. Esta névoa, de baixa densidade, carrega as micropartículas de inseticida para os pontos mais altos da instalação que normalmente não são atingidos por pulverização. Este tipo de tratamento visa controlar, especialmente, os insetos voadores como traças u gorgulho que se alojam nos pontos mais altos da instalação.
– Fumigação. Controle de pragas através do tratamento químico realizado com compostos químicos ou formulações pesticidas (os chamados fumigantes) voláteis (no estado de vapor ou gás), visando a desinfestação de materiais, objetos e instalações que não possam ser submetidas a outras formas de tratamento. Este tipo de tratamentos é geralmente reservado a pessoal especializado.
– Isco. Consiste na colocação de certas preparações para atrair ou repelir parasitas, roedores, etc.
– aplicação de produtos fitofarmacêuticos em conjunto com a água de irrigação.
– Incorporação no solo de certos produtos fitossanitários em forma sólida ou granulada.
Pulverizadores
São máquinas formadas por um tanque com agitadores, que mantêm em elevada fusão o produto e a água. Detêm também uma bomba, que força a água a sair pelos bicos, fragmentando-a em gotas de um diâmetro da ordem de 150 microns e dispersando-as no solo ou nas plantas. O débito nos tratamentos varia de 500 a 1300 litros por hectare, dependendo do produto, densidade da plantação, etc.
A pulverização pode ser classificada de acordo com sua origem em:
TIPO | CAUSA | TRANSPORTE DE ENERGIA | TRANSPORTE DE GOTAS | NOME DO EQUIPAMENTO |
---|---|---|---|---|
Hidráulico | Pressão do líquido através de um pequeno orifício | Bomba | Energia cinética das gotas | Pulverizador hidráulico |
Hidropneumático | Pressão do líquido e corrente de ar | Bomba e ventilador de fluxo axial | Fluxo de ar | Pulverizador hidropneumático |
Pneumático | Depressão e choque de corrente de ar a alta velocidade | Ventilador centrífugo | Fluxo de ar | Pulverizador pneumático |
Centrífugo | Força centrífuga | Motor elétrico ou eólico | Energia cinética das gotas | Pulverizador centrífugo |
Térmico | Depressão por corrente de gás quente | Motor de explosão | Formação de névoa | Termonebulizador |
Pulverizador Hidráulico
Com o pulverizador hidráulico, a pulverização é feita pela pressão do líquido acionado pela bomba. O peso do líquido sob pressão através do bico de pulverização produz gotículas de diferentes diâmetros, dependendo da pressão de trabalho e do tipo de bico utilizado. Estes pulverizadores adaptam-se a todos os tipos de tratamentos e são os mais utilizados. O tamanho da gota varia entre 250 e 1000 microns, conforme mostrado na tabela seguinte.
Classificação das pulverizações segundo o tamanho das gotas
DIÂMETRO VOLUMÉTRICO MÉDIO DAS GOTAS (MICRAS) | CLASSIFICAÇÃO DO TAMANHO DAS GOTAS |
---|---|
< 50 | Aerossol |
51 – 100 | Névoa |
101 – 200 | Pulverização fina |
201-400 | Pulverização grossa |
> 400 | Pulverização grossa |
Partes de um pulverizador
Bombas
A bomba pode ser encarada como o coração da máquina, sendo responsável por absorver o caldo do tanque e enviá-lo para os bicos a uma determinada pressão. No mercado é possível encontrar vários tipos de bombas: pistão, membrana de pistão, membrana, rolo e engrenagem.
As bombas de rolo e engrenagem não devem ser usadas em pulverizadores hidráulicos devido ao seu alto desgaste, não garantindo o mesmo caudal ao aumentar a pressão. Há um fator muito importante ligado às três primeiras bombas, que é a caldeira da compensação de impulsos que atenua a depressão que ocorre no circuito hidráulico.
Depósitos
Podem ser encontrados no mercado diferentes tipos de depósitos
– Metálicos. Sofrem problemas de corrosão.
– Polipropileno. São os mais utilizados, já que não se degradam nem deixam resíduos nas paredes.
– Fibra de vidro + resina. Deixam resíduos nas paredes.
Agitadores
Componente fundamental para conseguir uma boa homogeneidade do líquido. Existem diferentes tipos de agitadores:
– Hidráulicos. São os mais frequentes, em certas situações é acoplado um bico injetor que afeta o efeito venturi e melhora a agitação. É recomendado apenas em tanques com menos de 800 litros.
-Mecânicos. São acionados pelo mesmo sistema que aciona a bomba, são compostos por um eixo equipado com paletes que são responsáveis pela homogeneização da mistura. São utilizados em tanques com mais de 800 litros.
– Mecânicos-Hidráulicos. Estes agitadores apresentam as vantagens dos dois anteriores, são normalmente utilizados em tanques de grande capacidade ou atrelados.
Filtros
São componentes essenciais em qualquer sistema de pulverização. A sua função é capturar e eliminar todas as partículas sólidas que o caldo de tratamento possa conter que tenham um diâmetro maior que o orifício de saída dos bicos.
Se os filtros não forem eficazes, irão ocorrer obstruções totais ou parciais nos bicos, causando uma distribuição irregular do produto no solo. Todo o equipamento de pulverização deve ter um filtro pelo menos em três locais: na entrada do tanque, na sucção da bomba e no acionamento da bomba.
Os filtros são geralmente compostos por uma malha de tecido metálico com orifícios menores que o do bocal que está a ser utilizado naquele momento.
Reguladores de Pressão
É uma válvula de retorno que permite que o líquido passe para o tanque dependendo da pressão no circuito, é ajustável permitindo aumentar ou diminuir a pressão.
Manómetros
Estão localizados no tubo de impulsão da bomba e a sua missão é indicar, em todos os momentos, a pressão do líquido nesse ponto. A dosagem correta da máquina depende do seu bom funcionamento. A pressão incorreta leva a um tamanho de gota diferente do desejado e a uma dose de produto diferente da calculada que, se baixa, pode tornar o tratamento ineficaz, e, se for alta, causará danos e até a morte da cultura.
A verificação dos manômetros é necessária e deve ser realizada com frequência, sendo o erro máximo inferior a 0,6%. Por cada 1/4 kg / cm2 de erro na pressão, a dose por hectare varia de 5 a 6%.
Bicos
Os bicos são os elementos fundamentais que influenciam na uniformidade da distribuição, tamanho das gotas, uniformidade do tamanho ao longo do tempo durante todo o tratamento, etc. As funções desenvolvidas pelos bicos são:
Quebra a veia líquida que circula pelos dutos e transforma-a em gotas de tamanho pequeno.
Limita a quantidade de líquido que sai de acordo com a pressão fornecida pelo equipamento de bombeamento.
Imprime no jato de gotas uma determinada direção e forma que dependerá do tipo de bocal utilizado.
Os bicos são acoplados em lanças ou barras de distribuição, e nos atomizadores são dispostos perifericamente em relação ao ventilador, que é responsável por dirigir e transportar as gotas. Os bicos desgastam-se com o uso, o que afeta a formação e distribuição das gotas, por isso é necessário verificar sua condição com frequência, e proceder à substituição dos que se encontrem desgastados.
Cada tipo de bico possui certas particularidades, por isso devem ser escolhidos de acordo com o tratamento a ser realizado. Os quatro tipos de bicos mais comuns são:
– Fenda. O orifício desses bicos é ranhurado, e o spray é obtido com a colisão de duas folhas de fluido. O jato projetado tem um formato de ventilador ou pincel, com menos gotas nas extremidades do que no centro. Eles efetuam uma pulverização bastante eficaz e uma penetração na aplicação de produtos fitofarmacêuticos bastante aceitável. Não requerem alta pressão de trabalho: 1,5 a 4 kg / cm2. Para conseguir uma boa uniformidade na distribuição dos jatos é necessária uma sobreposição.
– Turbulência ou cone. O elemento fundamental destes bicos é o disco com perfurações oblíquas que farão com que o líquido siga um caminho circular dentro da câmara de turbulência. Este movimento é mantido depois de sair através do orifício circular da placa de pulverização. Assim, a projeção será um cone no espaço, enquanto no chão será um anel. São os mais utilizados e exigem uma pressão de trabalho de 3-5 kg / cm2. Eles podem ser cone cheio ou cone oco. O cone oco produz gotículas de diâmetro menor que as do cone cheio, dispersando em um ângulo mais aberto.
– Defletor ou de espelho. O líquido sai através de um orifício calibrado de pequena dimensão; em frente ao bico, existe uma superfície inclinada contra a qual o jato colide, quebrando uma infinidade de gotas, projetando-as em direção ao solo. Produz gotas de grande tamanho. A pressão de trabalho está entre 0,5 e 2 kg / cm2.
– Descentralizado ou de impacto. Estes bicos pulverizam o líquido e projetam-no para o lado. A imagem em spray que eles projetam é irregular. As gotas são geralmente irregulares, predominantemente espessas, espalhando-se em um ângulo bastante grande. Estes bicos exigem uma baixa pressão de 0,5-2,5 kg / cm2.
Atomizadores
Nos atomizadores as gotas são formadas, como no pulverizador hidráulico, pela diferença de pressão. O transporte é produzido por uma corrente de ar que envolve todas as gotas. A corrente de ar influencia o tamanho das gotas. É um sistema menos sensível à deriva e evita a evaporação e efeitos devido à alta temperatura. O tamanho da gota varia entre 100 e 400 microns. Este sistema melhora a aplicação de produtos fitofarmacêuticos e respetiva penetração do fitofármaco na cultura, uma vez que a corrente de ar agita as plantas.
Nebulizadores
Os nebulizadores caracterizam-se por produzir gotículas muito finas, semelhantes ao nevoeiro. As gotas são produzidas pelo choque com uma corrente de ar de 80-160 m / s. Os nebulizadores não possuem bico. Há um súbito estreitamento do orifício de saída, onde a pressão e a velocidade aumentam devido ao efeito venturi. O transporte é realizado pelo fluxo de ar. As vantagens deste sistema são o baixo desvio, boa penetração na cultura e diâmetro de gotas de 40 a 200 microns.
Pulverização centrífuga
As gotas são formadas devido a uma força centrífuga que sujeita a veia do líquido a um esforço de tração. Esta tração é realizada depositando o líquido em algumas lâminas ou disco, que roda a uma velocidade de 4000 a 20.000 r.p.m. As gotas serão menores conforme a velocidade aumenta. No entanto, as gotículas menores serão mais sensíveis à deriva e evaporação. O diâmetro das gotas varia entre 50 e 100 microns. Este sistema é geralmente usado em tratamentos aéreos.
Nebulização térmica
A nebulização térmica une a pulverização pneumática a uma entrada de calor, produzindo tamanhos de gotas muito pequenos, entre 10 e 50 mícrons. Basicamente consistem num tanque para o produto, tanque de combustível, motor e tubo de escape na forma de emissor de névoa. O produto fitossanitário é injetado na forma líquida no final do tubo de escape, por meio de um bico similar aos utilizados na pulverização pneumática e, ao ser arrastado pelos gases de exaustão, ocorre a formação das gotas; Estes são aquecidos, evaporando, e quando saem, condensam-se sob a forma de nevoeiro, depositando-se nos vegetais.
Polvilhadores
São aquelas máquinas que distribuem a formulação em pó, através de uma corrente de ar. Essa corrente de ar, produzida por um ventilador, entra no tanque arrastando a poeira, distribuindo-a de forma mais ou menos homogénea no vegetal.
A lista a seguir mostra as vantagens e desvantagens deste método de aplicação de produtos fitofarmacêuticos.
Vantagens:
– Com os tratamentos por pulverização, consegue-se uma melhor penetração dos produtos na massa vegetal.
– Também é importante em locais com escassez de água (seca).
– Maior velocidade de execução.
Desvantagens:
– Barreira de proteção insegura.
– Pouca aderência dos produtos à planta.
– Falta de homogeneidade na distribuição.
– muito volume de produto para a mesma quantidade de material ativo.
– Problemas de armazenamento.
– Mistura de poeira com humidade.
– Aplicação de produtos fitofarmacêuticos descontrolada em dias de vento, com a consequente invasão do produto de locais próximos.
A aplicação de produtos fitofarmacêuticos não pode ser apenas centrada na identificação do agente para resolver determinada situação, mas antes efetuar uma abordagem holística, que compreende a escolha da maquinaria apropriada, de acordo com o produto a ser utilizado e o patógeno a ser combatido, as condições climáticas e ambientais, entre outros fatores.
Para mais informação: “Utilização de Produtos Fitofarmacêuticos na Agricultura“, João Santos Simões – Sociedade Portuguesa de Inovação. | Manual Técnico – Segurança na Utilização de Produtos Fitofarmacêuticos – DRAPC | “Bicos de Pulverização“, UFMG