Um novo estudo publicado na revista Atmospheric
Environment (*) revela que pelo menos 14%
dos locais da rede Natura 2000 situados na Península Ibérica Ocidental estão em
risco de eutrofização – um fenómeno causado pela presença em excesso de azoto e
outros nutrientes que leva ao crescimento excessivo de plantas que toleram o
azoto, o que pode ter graves consequências para a biodiversidade.
A queima de combustíveis fósseis associados aos transportes e
atividades industriais, bem como a agricultura e a pecuária, são alguns dos
fatores que contribuem para a poluição do ar, através da emissão de azoto,
enxofre e outros compostos que depois se depositam à superfície através da
chuva ou sedimentação, com consequências potencialmente graves para a saúde e
os ecossistemas.
No estudo agora publicado, os investigadores desenvolveram mapas da
concentração e deposição de compostos de azoto e enxofre com o maior nível de
detalhe até agora existente para Portugal Continental: com uma resolução
espacial de 5km por 5km, quando os mapas anteriores tinham uma resolução de
10km por 10km a 50km por 50km. Esta elevada resolução é crucial para
identificar áreas em maior risco, onde os níveis críticos de deposição de
poluentes estão a ser ultrapassados.
Os resultados revelam que pelo menos 14% dos locais da rede Natura 2000 estão
em risco de eutrofização – o crescimento em excesso de plantas tolerantes ao
excesso de azoto e o desaparecimento de outras, menos tolerantes. A rede Natura
2000 é uma rede de áreas protegidas composta por cerca de 26 000 locais
que representam um quinto do território europeu, oferecendo proteção a espécies
e habitats ameaçados da Europa.
“Os nossos resultados indicam que pelo menos 14% dos locais da rede Natura 2000
na Península Ibérica Ocidental estão em risco de eutrofização – mais do triplo
do que se conhecia com os modelos anteriores. Mas a área em risco de
eutrofização poderá ser ainda mais elevada. Para 64% dos locais da rede Natura
2000 não existe ainda informação sobre a capacidade crítica dos seus
ecossistemas em tolerar excedências de azoto”, explica Maria Alexandra Oliveira,
primeira autora do estudo, investigadora doCentro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais –
cE3c, na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (Ciências
ULisboa). Os novos mapas estão agora disponíveis online a todos os
interessados. “Este é um importante contributo que agora está disponível.
Apesar de a eutrofização ser considerada um dos fatores mais associados às
alterações globais, mapas com elevada resolução da deposição de azoto não
existiam para Portugal”, acrescenta a investigadora.
Conhecendo exatamente os locais com níveis elevados de poluentes e por isso em
maior risco, é possível atuar com medidas concretas. “Os mapas produzidos
poderão apoiar a implementação da Diretiva Europeia de Tetos de Emissões (NEC)
renovada em 2019, que ‘obriga’ os países da União Europeia a estabelecer
limites máximos de emissões de alguns poluentes”, explica Maria Alexandra
Oliveira. Os investigadores disponibilizaram esta
informação melhorada sobre a concentração de poluentes atmosféricos e deposição
junto da Agência Portuguesa do Ambiente, para que possam ser implementadas
medidas de gestão dos ecossistemas.
Este estudo resultou da colaboração de investigadores do Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais –
cE3c e do Instituto Superior de Agronomia (ULisboa)
e do Centro de Ecologia e Hidrologia do Reino Unido (UKCEH), no âmbito do
projeto europeuNitroPortugal: Strengthening Portuguese research
and innovation capacities in the field of excess reactive nitrogen (2015-2018).
(*) Oliveira M.A. et al.
(2020) Nitrogen and sulfur deposition over a region in SW Europe based on a
regional atmospheric chemical transport model. Atmospheric Environment, 223,
117290. https://doi.org/10.1016/j.atmosenv.2020.117290