O mais recente Recenseamento Agrícola, concluído no final de 2020, revelou mudanças significativas na paisagem agrícola de Portugal. Os resultados indicam um aumento notável das culturas permanentes, como olivais, amendoais, pequenos frutos e culturas subtropicais, refletindo uma mudança cultural na atividade agrícola. Neste artigo, partilho consigo alguns dos principais resultados desta operação estatística que permitem caracterizar a agricultura portuguesa atual.
Os modos de produção agrícola em Portugal
Em Portugal, os diferentes modos de produção agrícola refletem uma ampla diversidade e uma evolução notável ao longo dos anos.
- Agricultura Tradicional: A agricultura extensiva, predominantemente utilizada em pequenas e médias propriedades, caracteriza-se pelo uso de técnicas mais rudimentares e com baixo uso de tecnologia. Apresenta baixo capital investido, poucos recursos e uso limitado de inputs agrícolas, resultando em produtividade mais baixa.
- Agricultura Moderna: A agricultura intensiva, mais comum, destaca-se pela alta produtividade e investimento significativo em tecnologia. Utiliza vários inputs agrícolas e adota sementes melhoradas para otimizar a produção, entre outros.
- Agricultura Familiar: Desenvolvida por famílias, visa principalmente a subsistência. É mais sustentável, diversificada e faz uso limitado de tecnologia e insumos agrícolas.
- Agricultura Empresarial: Focada no mercado interno e externo, destina-se à comercialização e exportação. Utiliza mão de obra contratada, inputs agrícolas e tecnologias avançadas para garantir a rentabilidade.
- Agricultura biológica: Em notável expansão, triplicou em 10 anos. Cerca de 3,9 mil explorações estão certificadas para produção biológica, com áreas dedicadas ao olival, frutos de casca rija, vinha e hortícolas, refletindo um aumento significativo na consciência ambiental e na valorização de práticas agrícolas sustentáveis.
Essa diversidade de modos de produção reflete não apenas a adaptação às diferentes regiões e condições climáticas do país, mas também uma evolução notável na adoção de práticas mais sustentáveis e tecnologias modernas para impulsionar a produção agrícola portuguesa.
Abaixo, partilho consigo alguns dos principais resultados do último Recenseamento Agrícola realizado em 2019 que confere uma abordagem completa de diversas áreas de produção vegetal no nosso país.
Menos explorações agrícolas mas de maiores dimensões
Em termos estruturais, embora o número de explorações agrícolas em Portugal tenha diminuído em 4,9%, o uso da terra aumentou consideravelmente, atingindo agora 3,9 milhões de hectares. Além disso, a área média das explorações nacionais cresceu para 13,7 hectares, mostrando um padrão de agricultura mais concentrada. Isso indica uma tendência de modernização e um substancial investimento na atividade agrícola ao longo da última década.
Os dados revelam que Portugal contava com 290.000 explorações agrícolas no último recenseamento, representando uma redução de 4,9% em comparação com os números da década anterior (2009). No entanto, a área total de terra usada para a agricultura cresceu em 8,1%, abrangendo agora 3,9 milhões de hectares. Simultaneamente, a área média por exploração aumentou para 13,7 hectares, um aumento de 1,7 hectares em relação a 2019.
Ocupação das terras agrícolas: um aumento das culturas permanentes
Os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) também indicam uma mudança significativa na ocupação das terras agrícolas. Houve uma diminuição de 11,6% nas terras aráveis, enquanto as culturas permanentes aumentaram em 24,6% e as pastagens permanentes cresceram 14,9%. Este movimento sugere um forte investimento na instalação ou modernização de olivais, pomares de pequenos frutos, culturas subtropicais e amendoais ao longo da última década.
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Na pecuária, observou-se uma reestruturação mais pronunciada, com o abandono de pequenos produtores e um aumento geral no tamanho médio do efetivo por exploração.
Nos últimos 10 anos, o número de sociedades agrícolas que exploram a Superfície Agrícola Utilizada (SAU) aumentou significativamente, agora representando 36,7% do total. Isso demonstra um claro aumento na empresarialização, que há uma década era responsável por apenas 27%. No entanto, na agricultura familiar, a idade média dos agricultores continua a aumentar, situando-se agora nos 64 anos.
Em resumo, houve uma redução no número de explorações agrícolas em Portugal, mas um aumento significativo na área total cultivada. Esse declínio, principalmente entre os pequenos produtores, foi compensado pelo crescimento das explorações de maior dimensão, sem que isso implicasse numa concentração de terras em grandes unidades produtivas.
Uma diminuição das terras aráveis
A redução contínua das terras aráveis em Portugal desde 1989 tem sido impulsionada, em grande parte, pela diminuição das áreas destinadas aos cereais para grão (que decresceram 32,2% em relação a 2009) e à cultura da batata (com uma queda de 28,6% em relação a 2009). Isso se deve à fraca competitividade dessas culturas nas condições de produção existentes.
Contudo, é importante destacar o notável aumento da área dedicada às leguminosas para grão, com um crescimento de 41,2%. Esse aumento resulta da promoção da diversificação de culturas, uma prática valorizada e incentivada pelos apoios ao greening.
O dinamismo na produção agrícola também se reflete no crescimento da área dedicada às hortícolas, que aumentou em 8,3%. Esse incremento é evidenciado pelo investimento na construção de estufas, que registrou um aumento de 9,9%, impulsionando a produção de hortaliças. Além disso, as áreas destinadas a flores e plantas ornamentais expandiram-se em 13%.
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Por outro lado, as áreas de prados temporários e culturas forrageiras cresceram em 12%, passando a ocupar quase metade das terras destinadas às culturas temporárias (49,8%). Esse crescimento indica uma mudança no foco das culturas temporárias para práticas relacionadas à alimentação do gado e à produção de forragem.
Olival e fruticultura em expansão
Durante a última década, o aumento significativo das áreas destinadas à produção de frutas foi notável, principalmente no cultivo de pequenos frutos, cuja área ultrapassou os 6,1 mil hectares, representando um crescimento exponencial de 2793% em relação a 2009. Além disso, as frutas subtropicais também experimentaram um enorme crescimento. A instalação de pomares permitiu uma duplicação das áreas, registrando um aumento de 153%, com destaque para o kiwi (crescimento de 126%) e o abacate, que agora ocupa uma área superior a 2,1 mil hectares, principalmente na região algarvia.
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Além dos pequenos frutos e frutas subtropicais, houve investimentos consideráveis em citrinos, com um aumento de 15,8%, e em frutas frescas típicas de climas temperados, que viram suas áreas crescerem em 14,1%. Destacam-se os pomares de cerejeiras (crescimento de 19,9%), macieiras (crescimento de 14,8%) e pereiras (crescimento de 5,4%).
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A produção de frutos de casca rija foi outra área que recebeu grande atenção na última década, quase dobrando suas áreas (crescimento de 98,6%). O cultivo do amendoal foi particularmente atrativo, com a instalação de amendoais modernos no Alentejo e na Beira Interior, impulsionando um crescimento de 97% nessa cultura. Destaca-se também o aumento significativo das áreas destinadas aos castanheiros, que cresceram 53,1%, e das nogueiras, que registraram um aumento de 127,6%.
Na olivicultura, o processo de modernização e expansão iniciado na década anterior continuou resultando num crescimento de 12,3% na área total destinada ao cultivo de azeitonas. Esse aumento se deve à instalação de olivais intensivos de alta densidade, com mais de 300 oliveiras por hectare, que agora representam mais de um quinto da superfície dedicada a essa cultura.
Quanto à vinha, não houve mudanças significativas na área total (-2,6%), mas observou-se um aumento na produção nas áreas irrigadas. Destaca-se também o crescimento das áreas certificadas para produção com Denominação de Origem Protegida (DOP), com um aumento de 4,3%.
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As pastagens permanentes continuam a dominar, ocupando cerca de 52% das terras agrícolas em 2019, totalizando aproximadamente 2 milhões de hectares. Dessas áreas, 71,6% não receberam melhoramentos, como sementeiras, adubações, regas ou drenagens.
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Aumento da área regada
O uso de sistemas de regadio também cresceu nos últimos anos, com 134,7 mil explorações utilizando esse sistema, representando 46,4% do total. Essas explorações têm capacidade para irrigar 630,5 mil hectares (15,9% da Superfície Agrícola Utilizada – SAU). Do total de áreas regadas, 46,8% são terras aráveis, 43,3% são destinadas a culturas permanentes e 9,9% a pastagens permanentes. A área total regada foi de 566.200 hectares (89,8% da superfície irrigável), principalmente para beneficiar culturas temporárias (32,1%), culturas permanentes (29,7%) e 2,4% de pastagens permanentes.
Houve um notável aumento da superfície potencialmente irrigável nos últimos 10 anos (+16,6%), especialmente devido ao crescimento das culturas permanentes. Este investimento na modernização de pomares, vinhas e olivais resultou no aumento do uso de sistemas de rega, beneficiando 69,7% dos pomares de frutos frescos (um aumento de 9% em relação a 2009), 11,5% dos pomares de frutos de casca rija (crescimento de 8,9% em relação a 2009), 31,7% dos olivais (um aumento de 12% em relação a 2009) e 27,8% das vinhas (um aumento de 13,1% em relação a 2009).
Área de produção em modo biológico triplicou
Os dados iniciais do Recenseamento Agrícola 2019 revelam um aumento significativo na agricultura biológica, com a existência de 3,9 mil explorações certificadas para produção nesse modo, representando um aumento de 214% em relação a 2009. Dessas explorações, um terço está localizado em Trás-os-Montes. A área total dedicada à produção biológica abrange 209.900 hectares, dos quais 69,1% são pastagens permanentes e 9,2% são prados temporários e culturas forrageiras destinadas à produção pecuária biológica.
Em relação às culturas específicas, o olival desponta com quase 21.000 hectares dedicados à agricultura biológica, seguido pelos frutos de casca rija com 10.500 hectares, a vinha com 4.000 hectares e as hortícolas com 1.800 hectares. Esse aumento notável na adoção da agricultura biológica reflete uma crescente consciência e valorização por práticas agrícolas mais sustentáveis e amigas do ambiente.
Espero que tenham gostado de saber mais sobre a agricultura portuguesa! Quais as informações partilhadas é que mais vos surpreenderam? Contem-me nos comentários.