Autora do artigo: Rosa Moreira, promotora do blog A Cientista Agrícola
Em que consiste o processo de compostagem?
A compostagem é um processo biológico em que os microrganismos existentes no solo transformam a matéria orgânica como por exemplo estrume, folhas, papel e restos de comida em material com características semelhantes ao solo a que chamamos vulgarmente composto.
Oxidação biológica: sabe o que é?
Para entender melhor o processo de compostagem, deve ter bem ciente o que é a oxidação biológica, uma vez que através desta oxidação que o processo de compostagem se realiza.
A oxidação biológica acontece devido à decomposição dos compostos constituintes dos materiais orgânicos e que libertam decorrente desse processo dióxido de carbono e vapor de água. A oxidação biológica é considerada pela maioria dos autores como um processo aeróbio. No entanto, pode ser também referida como um processo biológico que submete os resíduos biodegradáveis a uma decomposição aeróbia ou anaeróbia (na minoria dos casos) e do qual resulta um produto final que se denomina composto.
É importante também referir que o processo de decomposição da matéria orgânica através dos microorganismos que refiro nas linhas anteriores e que vulgarmente chamamos compostagem, pode ser também acelerado através da intervenção do ser humano, pelo que todos nós podemos interferir neste processo através das boas práticas que irei falar a seguir.
Sabe qual é o principal objectivo da compostagem?
O principal objectivo do processo da compostagem é a transformação do material orgânico através da acção dos microorganismos do solo, para garantir assim as condições necessárias para incorporar o resultado deste processo no solo, através da sua mistura. Para além disso, outra função da compostagem é destruir a funcionalidade das sementes de plantas infestantes e os microrganismos com características patogénicas.
Quais as características dos materiais a serem compostados?
Os materiais utilizados para a compostagem podem ser divididos em dois tipos: os materiais ricos em carbono e os materiais ricos em azoto.
- Materiais vegetais frescos e verdes: este tipo de materiais têm a tendência a serem mais ricos em azoto.
- Materiais ricos em carbono: normalmente são de cor castanha e nestes casos, a ausência de clorofila é mais notória. Nesta classe de materiais a serem compostados, devemos ainda levar em consideração os materiais lenhosos como por exemplo: casca de árvores, aparas de madeira e o serrim e restos das podas de árvores. Devem ser ainda incluidos neste grupo as folhas e agulhas das árvores, palhas e fenos assim como o papel.
Materiais que não deve incluir na compostagem
Os materiais para compostagem não devem incluir vidros, plásticos, tintas, óleos, metais, pedras, entre outros objectos/materiais do género.
Por outro lado, DEVE EVITAR AO MÁXIMO “restos” com excesso de gorduras uma vez que podem libertar ácidos gordos e que podem contribuir para retardar o processo de compostagem diminuindo a qualidade do composto final produzido.
A CARNE TAMBÉM DEVE SER EVITADA nas pilhas de compostagem uma vez que pode atrair animais famintos. Relativamente ao papel, este pode ser incluído mas não deve exceder 10% da pilha. No entanto, nem todo o papel pode ser utilizado no processo de compostagem: papel encerado ou de cor deve ser evitado ao máximo uma vez que a sua decomposição ficará muito dificultada.
A dimensão das partículas dos materiais
É fundamental que para o processo de compostagem, avalie com bastante atenção a dimensão das partículas dos materiais que pretende incluir neste processo. É sempre preferível partículas mais pequenas. Sabe porquê? Eu explico…
As partículas pequenas têm uma superfície específica maior e por esse motivo serão decompostas mais rapidamente desde que se consiga garantir o arejamento adequado. Ainda falando sobre a dimensão das partículas, aconselho que estas tenham um tamanho que esteja compreendido entre os 1,3 cm e 7,6 cm uma vez que baixo deste intervalo será necessário utilizar sistemas de ar forçado. No entanto, partículas de maiores dimensões podem ser mais adequadas para pilhas mais estáticas e em que não seja necessário arejamento forçado.
Alguns fatores a ter em conta na elaboração do composto
Existes alguns fatores que deve ter em consideração para a boa execução da compostagem e posterior pilha de composto. Conheça abaixo algumas das características essenciais:
Mistura de materiais
Resumidamente, quando estiver a construir a pilha de compostagem deve utilizar uma mistura de materiais ricos em carbono com outros materiais ricos em azoto. Tal facto é essencial uma vez que os materiais ricos em carbono fornecem a matéria orgânica e a energia para a compostagem e os materiais ricos em azoto aceleram o processo de compostagem. Isto acontece porque o azoto é necessário para o crescimento dos microrganismos e por isso essencialmente para o processo de compostagem. É importante também realçar que na maior parte dos casos, quanto mais baixa é a relação Carbono/Azoto (C/N) mais rapidamente termina a compostagem.
Arejamento (presença de oxigénio)
A presença de oxigénio na pilha favorece o processo de oxigenação. Por esse motivo, o oxigénio é fundamental para os microrganismos obterem energia resultante da oxidação do carbono orgânico. A falta de oxigénio causa o ambiente redutor resultando compostos incompletamente oxidados.
Humidade
Para uma boa compostagem, recomenda-se um teor de humidade de 50 a 60% . Valores de humidade abaixo de 35-40% levam a uma redução da decomposição da matéria orgânica assim como valores de humidade abaixo dos 30% onde o processo de decomposição é praticamente interrompido. Por outro lado, valores muito altos de humidade (acima de 65%) causam um retardamento do processo de decomposição, e são responsáveis pela produção de maus odores e em alguns casos a lixiviação de nutrientes.
Temperatura
A temperatura é o factor mais importante para determinar se a operação de compostagem se processa como espectável. Por essa razão, deve-se registar a temperatura de vários pontos da pilha, no interior e no exterior, ou em diferentes camadas. Os valores de temperatura devem alcançar os 40 a 50 °C em dois ou três dias verificando-se também que quanto mais depressa o material for decomposto mais cedo a temperatura começará a descer.
pH
O pH do composto pode ser indicativo do estado de decomposição dos resíduos orgânicos. Durante as primeiras horas do processo de compostagem o pH diminui até valores de, aproximadamente, 5, e mais tarde, aumenta gradualmente com a evolução do processo de compostagem e estabilização do composto, podendo atingir valores na ordem dos 7 e 8.
Se por acaso verificar que os valores de pH estão baixos, isso poderá indicar falta de maturação devido à curta duração do processo ou por outro lado, dever-se à ocorrência de processos anaeróbios no interior da pilha onde está se a formar o composto.
Escolha do Local para a compostagem
O local que escolher para fazer a compostagem não deve ficar exposto directamente a factores climáticos como sol ou vento, para que não seque, nem estar exposto à agua de chuva, para garantir que a pilha do composto não fique sujeita à lixiviação de nutrientes. Escolha um local para a compostagem perto do local onde o composto será utilizado.