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Rastreabilidade nos alimentos: conheça um produto do campo à mesa

Autora do artigo: Ana  Maria Páris Coixão, Agrónoma

Contacto:[email protected]

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Saiba o porquê de sempre se mencionar a rastreabilidade, quando se fala em certificação

De acordo com o Regulamento (CE) n.º178/2002, art.º 3 os gestores devem conseguir ter a “capacidade de detetar a origem e de seguir o rasto de um g.a.*, de um alimento para animais, de um animal produtor de g.a. ou de uma substância, destinados a ser incorporados em g.a. ou em alimentos para animais, ou com probabilidades de o ser, ao longo de todas as fases da produção, transformação e distribuição”. Uma rastreabilidade eficiente gera informações valiosas e confiáveis sobre produtos de qualidade.

*g.a = género alimentício

O conceito de rastreabilidade pode parecer complexo, mas, na prática, é simples e pode ser aplicado tanto por pequenas com grandes empresas de revenda, desde que haja organização.

Definição de Rastreabilidade

A rastreabilidade caracteriza-se pela realização do historial de um produto desde o início como matéria-prima passando pela sua transformação e terminando na comercialização. Permite-nos saber o que é o produto, de onde veio (origem) e para onde foi (destino).

rastreabilidade dos alimentos
Fonte: Promtec

Através do acompanhamento qualitativo dos produtos podemos encontrar causas de um problema que tenha ocorrido durante a “vida” do produto.

Vantagens da rastreabilidade

A rastreabilidade é aplicada principalmente em indústrias alimentares e agro-pecuárias.

Este tipo de tecnologia permite cumprir com os requisitos de segurança do produto e manter a qualidade ao longo de toda a cadeia de produção e distribuição (FISPAL). Além disso, investir na rastreabilidade é sinónimo de apostar no relacionamento com o consumidor, pois é um aspeto primordial para conquistar a confiança do mercado. O consumidor tem ainda acesso a informação precisa sobre a origem do produtos e proteção da Saúde Pública.

Para o produtor, a rastreabilidade é uma ferramenta útil no âmbito da qualidade e logística, que aumenta a partilha de responsabilidades ao longo da cadeia alimentar, permite diagnosticar problemas em todas as etapas do processo de produção, redução de perdas, valorização da marca, preferência de compra pelos distribuidores e consumidores que exigem alimentos com certificado de procedência, o que consequentemente causará redução de custos e aumento da margem de lucro.

Como implementar?

Deve ter em conta que a implementação da rastreabilidade deve seguir um processo, ou seja, é necessário definir etapas e seguir padrões, que resultam de requisitos de segurança cada vez mais exigentes.

As empresas têm liberdade na escolha dos instrumentos que considerem adequados para assegurar a rastreabilidade (Regulamento (CE) n.º 178/2002).

O primeiro passo é investir na identificação correta, precisa e padronizada.

O código de barras é uma das ferramentas de automação mais utilizadas na identificação de produtos, contribuindo para a agilidade no atendimento ao cliente, captação automática das informações, maior controlo, diminuição de erros, redução de custos, entre outras vantagens.

Outros tipos de rastreabilidade, são utilização de lote, códigos padronizados, marca de certificação, QR Code, entre outros.

rastreabilidade dos alimentos
Fonte: tag ID

Sistemas de gestão de produção como o MES – Manufacturing Execution System – simplificam a vida aos gestores, uma vez que permitem total rastreabilidade de forma automatizada (Flowtech, 2018).

Uma das maiores vantagens em utilizar um software de gestão da produção e qualidade MES para garantir a rastreabilidade é o facto de os gestores conseguirem, assim, aceder a informações mais fiáveis e precisas em tempo real. Além de garantir o cumprimento dos requisitos legais, os gestores conseguem agir mais rapidamente se surgir alguma inconformidade num lote de produção e for necessário retirá-lo do mercado.

Num sistema automatizado, o registo dos dados é feito de modo mais rápido, com possibilidade de armazenamento sem perda de dados, permitindo que os fabricantes consigam:

  • Obter informações detalhadas de todas as fases do processo de produção;
  • Intervir rapidamente na produção quando algum parâmetro estiver em níveis anómalos;
  • Identificar os ingredientes utilizados em cada lote de produção;
  • Identificar os fornecedores;
  • Facultar os dados de produção às autoridades competentes, sempre que necessário.

Rastreabilidade a montante e a jusante

rastreabilidade dos alimentos
Fonte: Agrogestao

Chama-se rastreabilidade a montante quando associada ao produto até à origem das matérias-primas. O gestor terá acesso a informações como:

  • Fornecedor das matérias-primas;
  • Data de receção;
  • Lotes e quantidades recebidas.

Chama-se rastreabilidade a jusante quando associada a quem foi distribuído o produto. Assegura o acesso a informações como:

  • Cliente a que dado produto foi entregue;
  • Data de expedição/entrega;
  • Quais os produtos, lotes e quantidades.

Graças a este funcionamento para ambos os lados, o gestor consegue localizar rapidamente um determinado produto na cadeia de abastecimento e retirá-lo rapidamente do mercado, caso necessário.

Rastreabilidade interna

Permite vincular os produtos que entram numa empresa aos que saem “de modo a possibilitar retiradas do mercado de forma orientada e precisa […] evitando-se assim a eventualidade de perturbações desnecessárias mais importantes em caso de problemas com a segurança dos g.a.” Reg. (CE) n.º178/2002, (28)

Exemplos práticos de rastreabilidade

Numa adega

Uma Adega definiu como um dos seus objetivos implementar um projeto de controlo de qualidade, desde o pé de vinha até à garrafa, garantindo a rastreabilidade dos produtos ao longo de todo o processo produtivo. Para alcançar este objetivo investiu:

  • Em ferramentas informáticas de hardware (ligando em rede todos os pontos da adega) e de softwares informáticos integrados entre si (sistema de informação geográfica, software de gestão da adega e software de gestão comercial);
  • Em equipamentos topo de gama para a análise das uvas e vinhos;
  • Na implementação da análise das uvas ao longo da maturação até à vindima, com o intuito de analisar e avaliar objetivamente a qualidade das uvas, promovendo a separação da matéria-prima e maior controlo da vinificação, de forma a aumentar a qualidade dos produtos obtidos;
  • Na implementação do controlo de qualidade de “secos” (análise das rolhas, garrafas, cápsulas, rótulos, qualidade do engarrafamento) para satisfazer as expectativas dos clientes e garantir a qualidade e segurança dos seus produtos.

rastreabilidade dos alimentos

Numa casa agrícola

Dado que este tipo de empresa vende vários produtos como por exemplo frangos e rações/farinhas de vários tipos, a rastreabilidade poderia ser aplicada em qualquer um destes produtos.

Quanto aos frangos, a rastreabilidade pode ser feita através da verificação da farinha com que foi alimentado, das condições em que foi transportado, que vacinas e medicamentos recebeu, qual lote de ovos de onde originou, onde foi incubado e quais os antecedentes familiares.

 A rastreabilidade seria feita por códigos: uma letra para o nome da espécie, outra para a categoria, outra para o lote, outra para a categoria, outra para o tipo de tratamento que recebeu (se recebeu), etc…

Quanto às farinhas para esses mesmos frangos (por exemplo), a rastreabilidade passa pela qualidade da embalagem e tipo de embalamento, transporte, armazenamento do produto já moído, o tipo de moagem/tipo de moinho, armazenamento do produto antes de ser moído, se a semente recebeu algum tipo de tratamento nos campos.

rastreabilidade dos alimentos

Referências Bibliográficas
https://www.promtec.com.br/tags-e-etiquetas-adesivas-para-rastreabilidade-de-produtos/
http://flowtech.pt/pt/blog/importancia-rastreabilidade-industria-alimentar/
http://agrogestao.com/ficheiros/Workshop%20Rastreabilidade_Q.Staff.pdf
https://www.tag-id.com.br/blog/diferencas-entre-codigo-qr-e-codigo-de-barras/

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