Autora do artigo: Sara Sousa, Agroop
O dia 30 de março de 2019 vai trazer consigo uma grande mudança: a saída do Reino Unido da União Europeia, ou Brexit. Os impactos para a economia dos países da União Europeia (UE) têm sido largamente discutidos.
Mas para o mercado agrícola europeu, como será? Eis seis previsões da parte da UE e do Reino Unido.
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Menos exportações e PIB para os países da UE…
“Todos os países UE27 vão ser negativamente afetados pelo Brexit.” Quem o diz é o Parlamento Europeu (PE), num relatório que analisa os possíveis impactos do mesmo.
Mas são os números que impressionam: o PE prevê que as exportações de produtos agroalimentares dos UE27 para o Reino Unido caiam em quase 30 mil milhões de euros (62%). Os setores mais afetados serão os alimentos processados, carne branca e laticínios. O PIB da UE também vai cair em 0,3%.
O Reino Unido importa muitos produtos agrícolas dos países da União Europeia – especialmente queijo, carne de vaca, ovelha e porco, arroz, azeite e vinho. Além disso, é o segundo maior país dos 28 da UE e “está altamente integrado com os países UE27 em termos de comércio e cadeias de valor,” ainda segundo o PE.
No entanto, segundo a Comissão Europeia, o Brexit será menos sentido nos setores “onde a União Europeia é o principal produtor mundial (por exemplo azeite)” e “nos setores onde há diferenciação de produto (por exemplo, produtos de qualidade).”
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…e pior para o Reino Unido
Se o mercado agrícola europeu e cada país da UE vão sofrer com o Brexit, a verdade é que, de acordo com as previsões, será o Reino Unido que vai ter mais dificuldades.
“A relação entre o Reino Unido e os UE27 é caracterizada por uma assimetria marcada. … Os UE27 representam um grande mercado e destino para os exportadores britânicos, enquanto que o Reino Unido é, comparativamente, um mercado pequeno para os UE27,” segundo o Parlamento Europeu.
O PE prevê que o PIB do Reino Unido caia 2,3% como resultado do Brexit e que as importações da UE de produtos agroalimentares do Reino Unido caiam quase 17 mil milhões de euros. O aumento das exportações do Reino Unido para países terceiros e as trocas comerciais dentro da UE não serão suficientes para compensar estas perdas.
No entanto, de acordo com um relatório da Câmara dos Lordes do Parlamento britânico, a expetativa é que a posição do Reino Unido como grande importador de produtos da UE dê ao país “uma posição forte durante as negociações comerciais para este tipo de produtos com a UE e, depois do Brexit, com países terceiros.”
Os consumidores britânicos também vão sentir o efeito da saída do país da UE, já que os preços dos produtos agroalimentares deverão aumentar em 4%.
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Trocas comerciais mais burocráticas
Para o Parlamento britânico, “preservar o comércio livre de barreiras tarifárias e não tarifárias com a UE deve ser uma prioridade,” já que “a UE é o maior mercado para os produtos agrícolas e alimentares do Reino Unido.”
Se, como consequência do Brexit, surgirem barreiras às exportações para a UE, “muitos dos nossos produtores e fabricantes alimentares incorreriam em custos substanciais,” lê-se no relatório da Câmara dos Lordes.
Estas preocupações existem em relação a todos os setores, mas na agricultura são mais fortes, já que “os atrasos em procedimentos de alfândega” seriam muito graves para produtos tão perecíveis como são os agroalimentares.
Também há preocupações a nível dos regulamentos sobre padrões de qualidade dos alimentos. “Se os quadros regulamentais do Reino Unido e da UE começarem a diferir a seguir ao Brexit, há um grande risco de barreiras comerciais para os produtores,” o que levaria a trocas comerciais mais custosas e lentas.
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Irlanda será especialmente afetada
Nem todos os países da UE vão sofrer de forma igual com o Brexit. Quanto mais próximos estão do Reino Unido, mais sentirão os seus efeitos.
A Irlanda irá, assim, ser o país – além do próprio Reino Unido – que mais vai sentir os impactos negativos do Brexit.
Prevê-se que o PIB deste país caia 3,4% – mais de 55 mil milhões de euros. O setor das carnes é particularmente vulnerável, já que a Irlanda exporta mais de 50% da sua carne de vaca e de porco para o Reino Unido.
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Europeus terão mais dificuldade em trabalhar no setor agrícola britânico
O Reino Unido é dependente de trabalhadores sazonais e permanentes, qualificados e não qualificados, do resto da UE. “Sem acesso a essa fonte de mão-de-obra, toda a cadeia de fornecimento de alimentos será adversamente afetada,” defende o Parlamento Britânico.
Se não forem asseguradas medidas para garantir que estes trabalhadores continuam a poder trabalhar no Reino Unido, “a indústria agroalimentar irá sofrer uma disrupção muito grande.”
Desde o referendo que decidiu o Brexit, os agricultores britânicos têm vindo a reportar a redução do número de trabalhadores da UE a entrar no setor, reporta a BBC.