PAN defende agricultura sem pesticidas e adubos para combater alterações climáticas e falta de alimentos

Autor do artigo: Agricultura e Mar

A deputada única do PAN – Pessoas-Animais-Natureza, Inês de Sousa Real, diz que “a agricultura é uma parte importante do problema climático. Actualmente, gera 19-29% das emissões totais de gases com efeito de estufa (GEE) a nível mundial” e que “o crescimento da população mundial e a alteração dos regimes alimentares estão a pressionar o aumento da procura de alimentos”. “O desafio é intensificado pela extrema vulnerabilidade da agricultura às alterações climáticas”, diz, considerando que a resposta a esta situação passa por uma aposta na agroecologia, sem pesticidas e sem adubos, dando “primazia aos serviços de ecossistemas em detrimento do aumento da incorporação de inputs”.

Por isso, Inês de Sousa Real recomenda ao Governo que proceda à elaboração e à implementação de um plano para a transição agroecológica.

A agroecologia constitui um quadro inovador e promissor para o desenvolvimento de soluções para os grandes desafios globais que enfrentamos: segurança alimentar, alterações climáticas, perda de biodiversidade e esgotamento dos recursos naturais como o solo e a água potável”, garante Inês de Sousa Real

“Face aos principais impactos das alterações climáticas sobre os ecossistemas agrários importa cada vez mais encontrar resposta na agroecologia – disciplina que fornece os princípios ecológicos básicos para o estudo, desenho e gestão de ecossistemas agrários, de modo a fazer face às necessidades de produção e de conservação de recursos naturais (Altieri et al. 20053) – como estratégia de adaptação”, refere a deputada no seu Projecto de Resolução n.º 871/XV/1.ª, entregue na Assembleia da República.

E adianta que, “para tal, importa cada vez mais, recorrendo ao desenho de estratégias de adaptação da agricultura segundo os princípios da agroecologia, dar primazia aos serviços de ecossistemas em detrimento do aumento da incorporação de inputs (energia, adubos, pesticidas, etc.) que resultam numa maior artificialização dos sistemas produtivos e em impactos negativos de longo prazo nos solos”.

Agroecologia

Explica o Projecto de Resolução do PAN que “a agroecologia é descrita como um modelo de cultivo baseado em sistemas agrícolas sem pesticidas que utilizam a biodiversidade como meio de produção. Implica a adopção de múltiplas formas de cultivo do solo e a introdução de diversidade vegetal nas parcelas e ao longo do tempo, criando um mosaico paisagístico que favorece a biodiversidade. Por outro lado, para funcionar, a agroecologia deve albergar uma fauna e uma flora muito numerosas e muito diversificadas, para que possam cumprir o seu papel de regulação das pragas e das ervas daninhas. Para manter e desenvolver esta biodiversidade, as parcelas cultivadas são rodeadas por habitats interligados e permanentes, que servem de abrigo aos organismos benéficos”.

“A agroecologia constitui um quadro inovador e promissor para o desenvolvimento de soluções para os grandes desafios globais que enfrentamos: segurança alimentar, alterações climáticas, perda de biodiversidade e esgotamento dos recursos naturais como o solo e a água potável”, garante Inês de Sousa Real.

Projecto de Resolução n.º 871/XV/1.ª realça ainda que “o crescimento da população mundial e a alteração dos regimes alimentares estão a pressionar o aumento da procura de alimentos (…) Um relatório de 2020 concluiu que cerca de 690 milhões de pessoas — ou seja, 8,9% da população mundial — passam fome (…). O desafio da segurança alimentar só se tornará mais difícil, uma vez que o Mundo terá de produzir cerca de 70% mais alimentos até 2050 para alimentar cerca de 9 mil milhões de pessoas. O desafio é intensificado pela extrema vulnerabilidade da agricultura às alterações climáticas”.

Queda de produtividade nos cereais

E alerta que “nas explorações agrícolas, as alterações climáticas estão a reduzir o rendimento das culturas ou a qualidade nutricional dos principais cereais”, acrescentando que “um estudo recente concluiu que as produções de espécies como o trigo, o arroz e o milho serão negativamente afectadas com o aquecimento global até ao fim do presente século, nas zonas temperadas e tropicais. Mais de 70% das projecções apontam para descidas de produção nas décadas de 2040 e 2050, 45% para descidas superiores a 10% e ainda 26% descidas acima de 25%”.

“Sucede que, perante uma descida dos níveis de produção agrícola decorrentes das alterações climáticas, os agricultores tenderão a procurar restabelecer as suas produções procurando ou aumentar a área agricultada ou intensificar a produção, aumentando a produção por hectare. Em qualquer um dos casos, tal implica um acréscimo da pressão sobre a biodiversidade, decorrentes do aumento da conversão de áreas naturais para produção agrícola e, em matéria de intensificação da produção, aumento do consumo de factores como pesticidas e adubos”, refere o mesmo documento.

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