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Ferramentas para uma ótima produção de milho para silagem: tudo o que deve saber

Autora do artigo: Ana  Maria Páris Coixão, Agrónoma

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O milho constitui, no contexto agrícola nacional, a mais importante cultura arvense.

Tendo em conta a produção de silagem para a alimentação de vacas leiteiras, os sistemas de produção tornam-se mais intensivos e exigentes. O milho apresenta grandes valores de produção, elevada digestibilidade, excelente valor energético e ingestão voluntária, sendo a sua conservação facilitada, sobretudo como silagem, apresentando assim um corte único (Moreira, 2002), chegando a constituir 50-75% da dieta dos ruminantes.

A sua produtividade e o seu elevado valor energético dependem da fase de colheita, das condições produtivas e do tipo de cultivar.

A escolha da cultivar começa pela duração do seu ciclo cultural, vulgarmente referenciada pelo ciclo FAO (200 a 800), o que está dependente da potencialidade climática da estação de crescimento do local (somatório de graus dia entre as datas possíveis de sementeira e colheita), devendo-se escolher as plantas de ciclo mais curto em sementeiras mais tardias, sendo plantas de menor estatura e por isso com valores ótimos de densidade de povoamento mais elevados (Moreira, 2002).

Avaliação do ciclo fenológico do milho para silagem, em função da seleção da cultivar e respetiva soma térmica e dos seus efeitos na produtividade, são ferramentas essenciais para uma ótima produção de milho para silagem. Permitem:

  • Identificar e distinguir as fases do ciclo fenológico do milho, e o que poderá influenciar a produtividade dessa cultura;
  • Relacionar a seleção da cultivar com as necessidades térmicas (cálculo dos Graus Dias de Crescimento (GDC));
  • Analisar a evolução fenológica, comparando datas de atingimento dos estados fenológicos e respetivos GDC;
  • Prever quando cada cultivar deve ser colhida de modo a ter o maior rendimento.

Ciclo fenológico do milho

O sistema de classificação fenológica de Ritchie et al. (1996) divide o ciclo vegetativo da planta de milho em fases vegetativas (V) e fases reprodutivas (R).

silagem de milho
Figura 1. Ciclo fenológico do milho de Ritchie et al. (1996)

A fase vegetativa inicia-se com a emergência da plântula (VE), a que se seguem n subdivisões, designadas simbolicamente por V1, V2, V3, ….,V(n), em que 1, 2, 3, …, (n), correspondem ao número de folhas desenvolvidas da planta. Vn representa a fase da última folha (ver figura 2), imediatamente antes da fase de floração masculina (VT), que é a última das subdivisões da fase vegetativa, representa o embandeiramento (Abendroth et al., 2011).

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Figura 2. Estados vegetativos

 

A contagem das folhas baseia-se no “método do colar da folha” (The Leaf Collar Method), ou “método do colar”, por apenas considerar as folhas cujo colar é visível (Richie et al., 1996).  Dependendo das variedades a planta pode produzir cerca de 20 folhas, mas na altura da polinização apenas se verificam entre 13 e 16 folhas, as folhas mais velhas acabam por ser destruídas pelo engrossamento do caule e falta de luz na parte basal da planta, por isso é importante colocar uma marca (p.ex fita) à volta da quinta folha para facilitar a contagem das folhas que forem surgindo e que deve ir subindo com o aparecimento de novas folhas.

Rn representa a fase reprodutiva onde n varia desde 1 que coincide com a polinização/fecundação até 6 que corresponde à maturidade fisiológica (Figura 3 a 9).

silagem de milho
Figura 3. Polinização cruzada na fase R1
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Figura 4. Aparência dos grãos da fase R2
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Figura 5. Escurecimento das sedas na fase R2

 

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Figura 6. Secagem das sedas na fase R3
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Figura 7. Aparência da espiga na fase R4
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Figura 8. Evolução da “Linha de Leite” (LL) na fase R5

 

É normalmente entre os 25%LL e os 75%LL que se deve realizar a colheita de milho para silagem, sendo o melhor momento de colheita dependente da seleção da cultivar e das condições climáticas sazonais e tecnológicas.

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Figura 9. Aparência da espiga na R6

Nesta altura, realiza-se a colheita do milho grão, quando os grãos considerados maduros fisiologicamente alcançaram seu máximo peso seco. As células na ponta do grão formam uma camada preta e o amido e a humidade mantem-se, com exceção da perda de humidade através da evaporação.

Em termos práticos, para se identificar a fase de desenvolvimento de uma parcela de milho, procede-se a uma amostragem visual e casualizada das plantas dessa parcela. A parcela é considerada como estando numa determinada fase, V ou R, quando 50% das plantas estão nessa fase.

A maioria das plantas de milho segue o mesmo padrão de desenvolvimento, porém, o intervalo de tempo específico entre os estados e o número total de folhas desenvolvidas pode variar entre híbridos/cultivares, ano agrícola, data de sementeira e localização (Abendroth et al., 2011).

O sistema de classificação fenológica de Ritchie et al. (1996) toma como referência-padrão o comportamento de um híbrido, bem adaptado e de precocidade média, do centro do estado de Iowa (EUA).

As carências em nutrientes e humidade parecem aumentar o tempo entre fases vegetativas, mas diminuem esse tempo entre fases reprodutivas.

O modelo apresentado não só facilita a melhor compreensão de como a planta de milho se desenvolve, ao longo do seu ciclo de vida, mas também nos permite associar a determinadas fases algumas oportunidades de intervenção fitotécnica, relacionadas com necessidades e cuidados de amanhos, maneios e granjeios, aspeto muito importante para se obter um ótimo desenvolvimento e produtividade da cultura. Quanto melhor um produtor conhecer a cultura, mais eficientemente usará as técnicas culturais para maximizar o rendimento económico e minimizar os impactes ambientais da mesma. A caracterização das fases de desenvolvimento permite, também, comparar o desenvolvimento de diferentes híbridos e comparar o seu comportamento, em diferentes condições pedo-climáticas, sazonais e tecnológicas.

Seleção da cultivar

A escolha das variedades deve estar apoiada em ensaios de adaptação regional, como sucede há anos no Entre Douro e Minho (Moreira, 2002). Como o ciclo cultural e a fase em que se colhe a planta pode afetar muito o rendimento de leite por hectare, o primeiro critério de seleção deverá ser relativo às características de precocidade, que melhor se enquadram nas disponibilidades térmicas da época cultural e do local.

A duração do ciclo cultural é o tempo contado desde a emergência até a colheita. A classificação cultural pode ser feita em dias (classificação americana) ou por um “índice” que varia entre 100 e 1000, a classificação da FAO (Miranda, 1993). A equivalência entre as duas classificações, assim como as necessidades térmicas para a maturação fisiológica, tendo em conta uma temperatura base de 10ºC para o desenvolvimento da cultura, apresenta-se no Quadro 1.

Quadro 1. Classificação das cultivares híbridas de milho para grão pelo sistema FAO, segundo a precocidade e necessidades térmicas para a maturação fisiológica (Adaptado de Bellido, 1990)

Classe FAO Precocidade Ciclo dias GDC10
100 Ultra precoce 76-85 917-972
200 Muito precoce 86-95 1028-1083
300 Precoce 96-105 1139-1194
400 Semi-precoce 106-115 1250-1306
500 Médio 116-120 1361-1417
600 Semi-tardio 121-130 1472-1528
700 Tardio 131-140 1583-1639
800 Muito Tardio 141-150 1694
900 Ultra Tardio >150

Necessidades térmicas

A época cultural disponível é definida, fundamentalmente, pela temperatura, embora nalgumas regiões tropicais também se tenha que atender ao fotoperíodo.

Para melhor caracterizar o desenvolvimento de cada variedade de milho, em função da evolução do tempo e da temperatura, utiliza-se o conceito de tempo térmico. De acordo com Cardoso (2005), vários termos são utilizados para designar as unidades de tempo térmico, nomeadamente: “somatório de temperaturas”, “somatório térmico”, “unidades de calor”, “unidades térmicas”, “integral térmica”, “soma de dias graus” “unidades dias graus” e “graus dias de crescimento”, assim como vários métodos para os determinar, sendo eles o Método Francês,Sommes des degrés-jours températures seuil 6ºC, Método Ontário, Unidades Térmicas (UT), Ontario Corn Heat Units (CHU) e por último o Método Americano ou Método Growing Degree Days, também designado por Growing Degree Units (GDU) (Vanderlip e Fjell, 1994) com temperatura base igual a 10ºC (modificado para a utilização da temperatura em graus centígrados, 10ºC = 50ºF e limite superior de 30ºC = 86ºF). Para exemplificar, demonstra-se em seguida o método americano cuja unidade se designará por Grau Dias de Crescimento (GDC);

Os GDC devem ser calculados diariamente utilizando as temperaturas máxima e mínimas fornecidas pelas estações meteorológicas, com as exceções de quando a temperatura mínima for inferior a 10ºC, esta deve ser corrigida para 10ºC e as temperaturas máximas diárias que forem superiores a 30ºC, devem ser corrigidas para 30ºC. Na figura 10 encontra-se o exemplo do cálculo diário dos GDC desde a data da sementeira à data da colheita no momento R5.75 de uma cultivar de ciclo FAO 500.

O balanço metabólico ideal decorre entre 10ºC e 30ºC.

silagem de milho
Figura 10. Variação da temperatura máxima e mínima e GDC na campanha de 2017 em Ponte de Lima.

Evolução Fenológica

No gráfico abaixo está representado um exemplo da evolução fenológica, comparando datas de atingimento dos estados fenológicos de duas cultivares de ciclos diferentes, em função dos graus dias de crescimento acumulados, na campanha do ano 2017, na região de Ponte de Lima.

silagem de milho
O ano 2017 foi um ano em que o território nacional esteve em situação de seca. Isto fez com que as mesmas cultivares, comparando com o ano 2016 tivessem que acumular mais GDC para atingir os diversos estados fenológicos.

Potencial Produtivo

Nas condições do Entre Douro e Minho utilizam-se variedades que normalmente não vão além do ciclo de 700 (Miranda, 1993).

O potencial produtivo reflete-se também no tamanho de cada planta individualmente. Os ciclos mais longos produzem plantas de maiores dimensões (maior biomassa, maiores espigas e maior número de grãos / maçaroca) que os ciclos mais curtos.

Cardoso (2005) refere que cultivares com diferentes ciclos culturais, provocam diferentes resultados, de tal modo que:

cultivares de época curta:

  • – produção de MS
  • + flexibilidade (sementeira mais tardia e/ou colheita mais precoce)
  • + qualidade (% MS e relação espiga/planta)

cultivares de época completa:

  • + produção MS
  • + qualidade (leite/hectare)
  • risco de oportunidade de intervenção maior, mas calculado

cultivares de época longa:

  • – qualidade da produção (% MS, relação espiga/planta e conservação da silagem)
  • nalguns casos – quantidade (a uma maior produção em MV pode corresponder uma baixa produção de MS).
Referências Bibliográficas
Abendroth, L., Elmore, R.., Boyer, M., Marlay, S., 2011. Corn Growth and Development. Iowa State University, University Extension, 49pp.
Bellido, L., 1990. Cultivos Herbaceos, Vol. I – Cereales. Ediciones Mundi-Prensa. Madrid. 539pp.
Cardoso, M., 2005. Ensaio da oportunidade de intervenção nas operações culturais de sementeira e colheita na cultura do milho para silagem, Tese de Doutoramento, ISA. Universidade Técnica de Lisboa, Portugal, 345pp.
Fancelli, A. L., 1986. Plantas Alimentícias: guia para aula, estudo e discussão. Piracicaba: USP/ESALQ, 131 pp.
Miranda. F., 1993. Produção e conservação de forragens. Formação profissional agrária. DRAEDM, Portugal, 91pp.
Moreira, N., 2002, Agronomia das forragens e pastagens, UTAD, 2002, 190 pp.
Vanderlip, R. L. Fjell, D. P. 1994. Use of growing degree units in corn production. In: Corn production handbook., Cooperative Extension Service, Kansas State University, Manhatan, Kansas, USA, pp. 6-8.
http://brasil.ipni.net/ipniweb/region/brasil.nsf/0/81A0BBD6E936445D83257AA0003A892E/$FILE/MF3305BP-CornGrowth-portuguese_FINAL.pdf

 

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