Fonte do artigo: Agricultura e Mar
A actividade agrícola produz uma série de subprodutos que, à primeira vista, parece não servir para nada. Mas não é assim. O óleo extraído do bagaço da azeitona pode ser utilizado na alimentação animal e como fertilizante e o caroço da azeitona pode ser transformado em biocombustível. As peles e sementes do tomate para indústria pode seguir para a alimentação animal e as borras da vinificação podem ser aproveitadas para aguardente.
Foi neste sentido de valorização dos subprodutos provenientes de olival, vinha, fruteiras e hortícolas que o PACT – Parque do Alentejo de Ciência e Tecnologia, no âmbito do Projecto Innoace e em conjunto com o Instituto Politécnico de Portalegre e o Centro Tecnológico Nacional Agroalimentario da Extremadura (CTAEX), desenvolveu um mapa de subprodutos agroalimentares gerados na zona Euroace (Centro de Portugal, Alentejo e Extremadura espanhola) para promover o seu posterior aproveitamento por parte das empresas interessadas.
Esta actividade destina-se a fortalecer o tecido empresarial, criando sinergias entre empresas e centros de I+D+i, levando a cabo acções de transferência e validação precoce de produtos e serviços mediante processos de inovação aberta.
A recolha de informação levada a cabo por aquelas instituições identifica os locais geográficos que produzem os subprodutos, quantifica o volume e a temporalidade da produção do subproduto e faz a avaliação analítica (fracções com interesse vs. contaminantes).
Valorização dos subprodutos
Porquê desta iniciativa? A dispersão geográfica da maioria das indústrias agroalimentares que existem na Euroace, faz com que a grande parte dos subprodutos não sejam reaproveitados, ou então são transformados a grandes de distâncias do local de produção, uma vez que não existem empresas que os possam transformar nas proximidades das empresas que os produzem.
Este afastamento geográfico alargado entre a área de produção e a possível área de reaproveitamento resulta na diminuição do potencial de utilização do subproduto.
Ao desenvolver um mapa de subprodutos agroalimentares na zona Euroace, pretende-se auxiliar um sector em expansão, como é o da utilização, gestão e valorização de subprodutos.
Sectores objecto de estudo
Azeite
A olivicultura e a actividade da indústria oleícola produzem uma grande quantidade de resíduos e subprodutos com alto potencial de impacto ambiental, por isso devem ser geridos da forma mais adequada.
O bagaço obtido na extracção do azeite por centrifugação de duas fases é um subproduto de consistência semi-sólida ou viscosa, formado por restos de polpa e caroço esmagado de azeitona. Apresenta pouca porosidade total, humidade entre os 55 e os 75% e teor de gordura de 3 a 9%. Possui alto teor de matéria orgânica (acima de 90% como valor médio), alta relação C/N e quantidades abundantes de lignina, celulose e hemicelulose, além de importantes níveis de lípidos, hidratos de carbono e fenóis. O seu pH varia entre alto a levemente ácido, e a condutividade eléctrica varia desde valores próximos de 1 dS/m a mais de 5 dS/m.
No que diz respeito ao teor de nutrientes, destaca-se a alta riqueza de potássio, característica dos resíduos e subprodutos do lagar enquanto que, pelo contrário, apresenta um teor geralmente baixo em azoto, fósforo, cálcio e magnésio em comparação com outros resíduos orgânicos (Albuquerque et al., 2004; Cegarra et al., 1993; Niaounakis e Halvadakis, 2006; Pascual et al., 1997). No que diz respeito a microelementos e elementos metálicos, destacam-se a sua alta concentração em ferro (Albuquerque et al., 2004) e o seu baixo teor em metais pesados (Madejón et al., 1998; Roig et al., 2006). À semelhança do que sucede com as águas ruças, são atribuídas propriedades fitotóxicas e antimicrobianas ao bagaço de azeitona devido aos altos teores de lípidos e fenóis presentes, o que fundamenta os riscos ambientais associados à sua aplicação directa no solo (Albuquerque et al., 2004; Linares et al., 2003; Niaounakis & Halvadakis, 2006).
Veja o mapa e as hipóteses de valorização
Este mapa, obtido através da cooperação tecnológica e a partilha de informação entre os centros participantes partilhando a informação recolhida, encontra-se disponível aqui, e centra-se na localização, quantificação e caracterização dos subprodutos agroalimentares produzidos na zona Euroace, diferenciando-se os diferentes tipos de subprodutos alimentares de origem vegetal provenientes de olival, vinha, fruteiras e hortícolas.