Tudo o que deve saber sobre a cultura do marmeleiro

Autores do artigo:

Pedro Moreira Dias ,UTAD,  email: [email protected]  ;

Nelson Araújo Maciel, UTAD, email: [email protected]

1 . Uma introdução à cultura do marmeleiro

Este trabalho foi elaborado no âmbito da unidade curricular de Fruticultura do 3ºano, 2º semestre da Licenciatura em Engenharia Agronómica. Neste trabalho pretende-se estudar a cultura do Marmeleiro, Cydonia oblonga Miller. Iremos fazer uma breve contextualização e caraterização de aspetos botânicos, plantação, fertilização, uma abordagem às suas principais pragas e doença e explorar algumas das suas utilizações.

Palavras-chave: Marmeleiro, Marmelo, Cydonia oblonga Mill., botânica, técnicas culturais, pragas e doenças

A Cultura do marmeleiro: tudo o que deve saber

O marmeleiro Cydonia oblonga Miller é uma planta arbustiva com origem no sudoeste e centro da Ásia sendo cultivada desde a antiguidade, 4000 a.C. na zona da Babilónia (Voz do Campo, 2018), ainda é possível encontrar a variedade selvagem na Ilha de Creta (Quinta dos Comoros, 2018). Foi difundido pela zona mediterrânea, pelos romanos.
A nível botânico o marmeleiro é uma pomóidea, C3, pertencente à família das rosáceas. Segundo Serralves (2018) é caracterizada por ter folhas simples, ovadas, coriáceas, tormentosas na página inferior, percoladas, com cor verde-escuro na parte superior e acinzentadas na parte inferior.
As flores caraterizam-se pela cor branca e por possuírem 5 pétalas, 5 sépalas, cálice e corola, com 20 estames (Voz do Campo, 2018), sendo estas hermafroditas de polinização entomófila, sendo o tipo de inflorescência solitário. Pode atingir um porte a tender para a verticalidade que varia entre 2 a 6 m de altura, copa arredondada com 2-4 m de diâmetro e ritidoma liso e acinzentado (Mitra nature, 2018).

Flor do marmeleiro
Flor do marmeleiro

Os principais consumidores de marmelos a nível mundial são o Médio Oriente e a antiga URSS (InfoAgro 2018).As estatísticas de 2011 apontam a Turquia e a China como os maiores produtores mundiais, com cerca de 46% da produção (Voz do Campo, 2018). Ao longo dos últimos 20 anos quer a área quer a produção têm vindo a aumentar tanto a nível mundial como a nível nacional, sendo que em Portugal, em 2016, estabilizou nos 796 ha, e a produção nas 6046 toneladas, com uma ligeira diminuição em relação a 2015, como consta nos quadros abaixo.
Segundo Kukokami (1968) citado por Dall’Orto (1987), 100 gramas de marmelo fornecem 0,3 a 0,6g de proteínas, 0,1 a 0,3g de gordura e 10,3 a 16,3g de hidratos de carbono, correspondendo aproximadamente a 40 a 60 calorias. Quando consumido ao natural é boa fonte de vitamina C, que varia de 5 a 12 mg. Por outro lado, o facto de possuírem uma quantidade razoável de taninos e pectinas faz com que o seu consumo seja recomendado para auxiliar o bom funcionamento do aparelho digestivo.

Maiores produtores de marmelos do mundo marmeleiro
Maiores produtores de marmelos do mundo marmeleiro(fonte: Faostat, 2018).

Evolução da área e produção em Portugal marmeleiro
Evolução da área e produção em Portugal (fonte: Faostat, 2018)

 

2. Aspetos de frutificação

Segundo Serralves (2018), a floração inicia-se em março e finaliza em maio, dando origem a um fruto carnudo, pomo, que atinge a maturação em setembro. A produção ocorre principalmente nas extremidades sobretudo em verdascas ou em madeira do ano anterior (InfoAgro, 2018).
De acordo com Dall’Orto (1982), o marmeleiro é uma espécie suscetível à alternância, sendo esta dependente do estado sanitário do pomar, e tem tendência a iniciar a produção quatro a cinco anos após a instalação.

3. Variedades e Porta-enxertos, Plantação e Exigências do marmeleiro

A nível de exigências de clima é uma espécie típica de climas temperados, invernos longos e verões quentes, resistente a temperaturas baixas e que de forma geral acompanha as regiões vitícolas, segundo Infoagro (2018). A exigência em horas de frio varia entre 100 a 500h, dependendo da cultivar utilizada. As flores e frutos recém-formados apresentam alguma sensibilidade a geadastardias. É uma das árvores frutíferas com maior exigência em luz.

Adapta-se a diferentes tipos de solo mas prefere solos férteis principalmente com textura franco-argilosa, bem arejados e drenados mas que apresentem alguma humidade desde que não haja encharcamento, aguentam valores de acidez que variam entre os 5,6 e 7,2, devendo-se optar porsolos ligeiramente ácidos, segundo a Infoagro (2018) em solos com mais de 8% de calcário ativo apresenta cloroses férricas.
Os compassos são, segundo Voz do Campo (2018), de 6 m x 4 m, condução em vaso e segundo outros autores a densidade de plantação ronda as 450 árvores por hectare.
O melhor momento para a realização da plantação é desde o período em que termina a queda das folhas até o fim de fevereiro/ início de março.
Existem diversas cultivares de marmeleiro nomeadamente: Gigante de Vranja,Portugal, Comum, Vau de mau, Angers e Fontenay, sendo as duas primeiras as que tem mais expressão no nosso país, tendo abaixo uma comparação entre estas duas cultivares.

 

Diferença morfológica entre as duas cultivares de marmeleiro mais comuns em Portugal
Diferença morfológica entre as duas cultivares mais comuns em Portugal (fonte: Voz do Campo, 2018)

O processo de multiplicação pode feito por via seminal, importante para obtenção de novas variedades, e por estacaria realizada a partir de ramos destacados de 25-30 cm em madeira do ano.

O marmeleiro apresenta alguns porta-enxertos para ultrapassar certos problemas, por exemplo, para solos pesados pode-se usar marmeleiro EMA, em solos calcários o BA29, com resistência a nemátodos o EMA e EMC, para reduzir o porte em caso de terrenos férteis o Adams e EMC, no caso dos pouco férteis o BA29 (Infoagro, 2018).
O marmeleiro pode ser usado como porta enxerto ananicante de pereiras e nespereiras.

(…)

Brevemente será disponibilizada a parte II deste artigo.

Até breve!

Referências Bibliográficas
Quinta dos cômoros, viveiros, Marmeliros, http://www.viveiroscomoros.pt/arvore/marmeleiros/(consultado em 18 de março de 2018)
Mitra Nature, Universidade de Évora, Cydonia oblonga Mill, http://www.mitra-nature.uevora.pt/Especies-e habitats/Plantas/Lenhosas/Arbustos-e-Lianas/Rosaceae/Cydonia-oblonga (consultado em 5 de março de 2018)
Serralves, Cydonia oblonga Mill, http://serralves.ubiprism.pt/species/show/971 (consultado em 5 de março de 2018)
Dall’Orto F. Marmeleiro, Propagação semenífera, citogenética e radiossensitivdade- bases ao melhoramento genético e a obtenção de obtenção de porta-enxertos, Piracicaba,1982. 160p.
Infoagro, EL CULTIVO DEL MEMBRILLO, infoagrohttp://www.infoagro.com/frutas/frutas_tradicionales/membrillero.htm
(consultado em 28 de março de 2018)
Regato, M.D.; Guerreiro, I.D. Manuela; Regato, JE. 2018. Marmeleiro. Alentejo é uma das zonas de expansão da cultura. Voz do Campo http://vozdocampo.pt/2017/04/18/marmeleiro-alentejo-das-zonas-expansao-da-cultura(consultado em 21 de abril de 2018)
Faostat, Quince 1996- 2016 World+total, http://www.fao.org/faostat/en/#data/QC/visualize (consultado em 27 de abril de 2018)
Faostat, Quince 1996- 2016 Portugal, http://www.fao.org/faostat/en/#data/QC/visualize(consultado em 27 de abril de 2018)
Veloso, A. (maio de 2016). A análise de terras e a análise foliar na fertilização do marmeleiro. tVida Rural, pp. 34-35.

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