Tudo o que deve saber sobre o milho e os seus subprodutos para alimentação animal

 

Autor do artigo:

 Mário Picoto PereiraEngenheiro da Produção Animal

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LinkedIn – www.linkedin.com/in/mário-picoto-pereira-35781114b

 

Aproveitamento de subprodutos agroalimentares para alimentação animal

“Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se Transforma”

Citou o célebre químico francês, Antoine Lavoisier e traduziu a sua mais importante colaboradora e confidente, a sua esposa Marie Anne, fortemente coligados em equipa.

Após o último artigo introdutório, falámos sobre o conceito de uma economia circular para a alimentação animal. Aplicando o conhecimento das matérias-primas principais e dos seus subprodutos, (originárias na agricultura e na indústria transformadora), começamos por nos focar em cada uma dessas matérias.

subprodutos do milho

O MILHO (Zea mayz)

O milho (Zea mayz), é uma planta da família das gramíneas, considerado um dos grãos mais importantes do mundo. É o 2º cereal, depois do trigo, com maior produção a nível mundial. É das espécies cultivadas mais produtivas e tem a maior produção de hidratos de carbono  por unidade de superfície/ dia.

Hidratos de carbono – nutriente cuja principal função é fornecer energia ao organismo.

É um cereal muito utilizado nas dietas para consumo animal, pois proporciona a mais alta taxa de conversão em carne, leite e ovos, comparativamente com outros cereais utilizados para a mesma finalidade.

O seu aproveitamento varia de acordo com a espécie, assim bem como os diferentes componentes estruturais e diferentes processos a que o milho é submetido, (por exemplo, os diferentes modos de administração para o consumo por parte do animal (farinha, semente (húmida ou seca), granulado)).

Por exemplo, a tabela 1 mostra a Digestibilidade do grão de milho e o rendimento obtido com borregos de desmame precoce, em dois tipos diferentes de disponibilidade do alimento:

subprodutos do milho

 

TABELA 1: Rendimento e digestibilidade do grão do milho.

Milho

Ganho peso (g/dia)
Grão Inteiro 345
Grão moído/ Granulado 346

Atualmente existem diferentes tipos de milho, devido ao cruzamento para dar resposta às adaptações da espécie em vários ambientes, variando a precipitação, estrutura do solo, temperatura.

A composição e o aporte de nutrientes do grão destinado à alimentação animal faz dele uma matéria-prima de alto valor energético, devido ao seu elevado teor de amido e gordura.

O milho para consumo animal pode fazer variar alguns aspetos, como a pigmentação da carne; da gema do ovo (muito importante para os consumidores de pontos diferentes do globo), pois é uma excelente fonte de vitamina A e de xantofilas que podem fazer variar esses aspetos.

subproprodutos do milho
Figura 1. Morfologia do grão de Milho.
  1. Trata-se de uma excelente fonte de energia digestível, no entanto deficiente em proteína;
  2. Contém 730g de amido por Kg de Matéria Seca (MS);
  3. A quantidade de fibra é escassa;
  4. Apresenta um alto valor de energia metabolizável;
  5. No caso dos ruminantes, o amido do milho digere-se no Rúmen mais lentamente, comparando com outros grãos, de modo a que se administrarmos uma grande quantidade podemos provocar problemas como a cetose;
  6. A composição em gordura, do milho, varia entre 40 a 60g por Kg MS, sendo rica em ácido linoleico (muito importante no concentrado alimentar (ração) para controlar, no caso das galinhas, o tamanho dos ovos;
  7. A concentração de proteína varia entre 90 a 140g por kg de MS;
  8. O grão do milho contém 2 proteínas: a Zeína, que se encontra no endosperma e a Glutelina, que se encontra no endosperma e no embrião.

subproprodutos do milho

Subprodutos do milho

Como vimos no artigo anterior, Portugal consome 58,4% de cereais, dos quais, dentro dessa fatia, 71,5% é milho.

Cabe-nos todo o aproveitamento máximo dessa produtividade, dando mais valor aos seus subprodutos  que, através da administração direta à atividade pecuária ou misturando com outras matérias-primas principais ou outros subprodutos, se formule um concentrado alimentar de qualidade, com toda a ética que isso implica.

Passamos a descrever os subprodutos mais conhecidos:

  1. Bagaço de Gérmen de milho 

Obtido através da extração/ pressão a partir do gérmen do milho, transformado por via húmida ou seca.

  1. Gritz de milho 

Obtido através da separação, por via seca, do gérmen do grão do endosperma.

  1.  Dréches e solúveis de destilação de milho

Obtido pela destilação de álcool, pela secagem de resíduos sólidos de grãos fermentados de milho.

  1. Farinha Forrageira de milho

Obtido através de fragmentos das camadas exteriores e por partículas do grão (onde se retirou menos endosperma do que na sêmea grosseira de milho).

  1. Glúten de milho

Produzido através do fabrico de amido de milho, pela separação do amido, constituído por glúten.

  1. Glúten Feed de Milho

Obtido através do fabrico de amido por via húmida, a partir da sêmea grosseira da qual foi retirado o embrião e por glúten, as quais se podem adicionar quantidades pequenas de trigo (resultantes da crivagem) e por pequenos resíduos da hidrólise do amido.

subproprodutos do milho

Subprodutos do milho: composição química do milho

Para melhor entendermos a composição desta matéria-prima para alimentação animal, podemos começar por fazer uma breve e simples análise prática a alguns dados quimicos como a Matéria Seca; Fibra Bruta; Proteína Bruta, Amido. A tabela 2 pode ajudar:

EXPRESSÃO SOBRE A MATÉRIA-SECA (MS g/kg)

TABELA 2: Composição química do Milho

subproprodutos do milho

Conclusões: serão os subprodutos do milho uma boa alternativa para a alimentação animal?

O milho é uma excelente fonte de energia, em forma de hidratos de carbono para a alimentação animal, no entanto, em excesso poderá gerar problemas, no caso dos ruminantes;

A forma de administração ao animal pode ter rendimentos diferentes, por exemplo, grãos inteiros ou moídos apresentam rendimentos diferentes, no caso dos ruminantes;

Tem pouca fibra e é rico em amido e ácido linoleico, o último que é muito importante para controlar o tamanho dos ovos das galinhas;

De acordo com a tabela de composição química do milho e seus subprodutos, podemos analisar para estruturar esses compostos para alimentação pecuária, reforçando (caso necessário), com subprodutos ou matérias-primas nutricionalmente mais ricas ou que equilibrem a tabela nutricional do alimento final;

No caso do milho, surge o problema dos baixos níveis de proteína, que pode ser ultrapassado com a adição de subprodutos do milho mais ricos nesse nutriente.

subproprodutos do milho

Perante algumas ideias…

Até quando teremos de esperar pela farinha de inseto para acrescentar a alguns subprodutos, equilibrando-os nutricionalmente e gerar mais valor?

Estão dispostas as empresas e cooperativas a cooperar e a organizarem todos os seus produtos e subprodutos, de acordo com a sua composição química, quantidade produzida a curto e longo prazo, equilibrando os produtos finais e a diminuir o desperdício alimentar, de forma circular e sustentável?

Espero que algumas ideias, questões e informações possam trabalhar em paralelo para gerar mais valor, mas, principalmente, que possam levar a pensar. Mais importante que o ensinar é levar as pessoas a pensar, a criticar, a discernir.

 

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Olá, sou a Rosa. Nasci e cresci em meio rural e desde cedo percebi o que queria fazer para o resto da vida. Mais tarde, quando entrei no ensino superior tornei-me Técnica Superior do Ambiente e Agrónoma, áreas que sempre me fascinaram. Este blog é mais do que um projecto pessoal...é  o culminar de duas paixões: a escrita e as ciências ambientais e agrárias. Este é um local de encontro entre todos aqueles que partilham destas mesmas paixões.  
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