A agricultura de conservação e o seu papel na manutenção da sustentabilidade
A agricultura convencional recorre a práticas de preparação do solo para a instalação das culturas consideradas prejudiciais para o meio ambiente, tais como a queima de restolhos e o reviramento de horizontes do solo (mobilização de inversão). Este tipo de agricultura é responsável por aumentar consideravelmente a erosão e a compactação do solo provocando muitas vezes a contaminação das águas superficiais com fertilizantes e pesticidas provenientes das actividades agrícolas, entre outras consequências nefastas. A agricultura de conservação consiste na utilização de diversas práticas que permitem um uso do solo para fins agrícolas, alterando o menos possível a sua estrutura e biodiversidade, minimizando efeitos como a erosão e degradação do solo.
Fonte da imagem:Organics News Brasil
Medidas da agricultura de conservação
- A preparação do solo em agricultura de conservação consiste na diminuição da intensidade ou eliminação da mobilização do solo. Inclui a sementeira directa (não mobilização) e a mobilização mínima ( onde não se incorporam ou incorporam superficialmente os resíduos da colheita) podendo cada uma delas ter diferentes modalidades.
- Estabelecimento de coberturas vegetais entre as culturas anuais sucessivas ou na entrelinha de culturas lenhosas (vinhas, pomares).
- Instalação de culturas segunda as curvas de nível, em faixas alternadas.
- Estabelecimento de pastagens permanentes com pastoreio adequado.
- Medidas hidráulicas que reduzem o efeito da erosão pela alteração do comprimento excessivo da parcela ou recorrendo ao terraceamento que para além do comprimento da parcela diminui o declive.
Em termos gerais, com as técnicas de conservação, o solo fica protegido da erosão e do escorrimento superficial, promovendo a formação natural de agregados do solo e aumentando a conservação da matéria orgânica. Por outro lado, a agricultura de conservação diminui a compactação originada pelo tráfego de máquinas agrícolas pesadas. Além disso, há uma menor contaminação das águas superficiais, reduzindo as emisões de dióxido de carbono e aumentando a biodiversidade. Fonte da imagem: Revista Agropecuária
Mobilização tradicional versus Mobilização de conservação
Mobilização tradicional
- Trabalho do solo intenso e dispendioso (utilizado na maioria dos casos charrua de aivecas e grades de disco que contribuem para a inversão de camadas do solo, complementada com outras máquinas agrícolas como fresa, escarificadores e rolos);
- <15% da superfície com protecção do restolho;
- A retirada do restolho ( enterramento ou queima) pode originar problemas nomeadamente: menor protecção da estrutura do solo, alteração da fauna edáfica, menor incorporação de matéria orgânica, maiores emissões de dióxido de carbono e destruição de raízes;
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Mobilização de conservação
- >30% da superfície protegida com resíduos;
- queima de restolho está interdita;
- Menor intensidade da mobilização do solo ou eliminação da mobilização do solo ( seleção criteriosa do número de passagens, n da profundidade de trabalho e do tipo de alfaia a utilizar nomeadamente peso e área de contacto solo-alfaia).
- Modalidades de preparação do solo: “mobilização mínima” e “sementeira directa”.
Agricultura de conservação: Mobilização mínima
A mobilização mínima (reduzida) pode ser:
- Temporal: menor número de passagens.
- Espacial: Menor quantidade de solo mobilizado (profundidade e/ou superfície).
A mobilização em toda a superfície é pouco intensa e caracteriza-se por não ter inversão de camadas (evita a utilização de herbicidas). A grade de discos é apenas utilizada em situações excepcionais e a mobilização do solo realizada é muito superficial ( grande largura de trabalho e menor tempo de execução). Neste tipo de mobilização é possível verificar uma apreciável quantidade de resíduos e estão interditas máquinas agrícolas como charruas e fresas. Na mobilização mínima utilizam-se maioritariamente alfaias de mobilização vertical como por exemplo escarificadores como o chísel ( molas trabalham á compressão, maior desafogo e trabalho com restolho).
A mobilização na zona é realizada apenas nas faixas para a sementeira ( é utilizado ainda herbicida na entre-linha). A época de mobilização é essencialmente antes da sementeira ou em simultâneo com esta fase cultural. Não existe limitação relativamente ao tipo de alfaias a utilizar, uma vez que a cobertura do solo com resíduos (+30%) fica garantida pelas zonas não mobilizadas (normalmente utilizadas fresas com 20cm de largura de trabalho).
Fonte da imagem:Lagoalva
Agricultura de conservação: Sementeira directa
Neste tipo de modo de preparação do solo não existe mobilização prévia do solo. São abertos sulcos no solo apenas para a introdução e enterramento da semente e, eventualmente fertilizantes. Os semeadores utilizados na sementeira directa são especiais (colocação da semente e incorporação dos fertilizantes, sanidade do solo e trituração do restolho). Relativamente ao controlo dos infestantes. Este é feito com herbicida total de baixo impacto ambiental em pré-sementeira ou pré-emergência.
Etapas da sementeira directa
- Triturar e espalhar o restolho da cultura anterior;
- Pasto do gado, se este não tiver encharcado;
- Esperar pelas primeiras chuvas;
- Esperar pela emergência das infestantes;
- Aplicar herbicida com baixo impacto;
- Efectuar a sementeira seguidamente à aplicação do herbicida( normalmente no dia seguinte);
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Por essa razão, defendo o recurso a técnicas de conservação, que, por minimizarem os efeitos na estrutura natural do solo (recordo que este é um recurso não renovável), protegem-no contra a erosão e a compactação. O nível da matéria orgânica e a fertilização aumentam naturalmente, além de se verificar uma diminuição das emissões de CO2.
Qual a sua opinião sobre a agricultura de conservação?