O futuro da agricultura mundial
Autora do artigo: Sara Sousa, Agroop
O que trazem os próximos dez anos para a agricultura mundial? Segundo o novo relatório da FAO e da OCDE, que faz previsões até 2027, o setor só vai crescer metade do que cresceu na última década. A culpa é do abrandamento do crescimento do consumo e da produção agrícola.
Dietas menos saudáveis, a ameaça das políticas protecionistas, o poder da tecnologia para melhoria da produtividade e as mudanças no consumo de produtos agrícolas são outros dos destaques do “Agricultural Outlook 2018-2027.”
O relatório é acompanhado de uma ferramenta online que permite comparar a evolução de bens agrícolas entre dois países ou regiões.
Consumo: cereais vão estagnar, açúcar vai crescer
Entre 2018 e 2027, a procura mundial por bens agrícolas vai desacelerar – mantendo baixos os preços dos mesmos. O motivo é o decréscimo da procura por parte da China, que na década anterior tinha sido uma importante fonte de procura destes produtos. Mesmo o surgimento de novas fontes de procura global não será suficiente para manter o crescimento.
O crescimento do consumo de produtos agrícolas vai ser, assim, potenciado sobretudo pelo aumento populacional, especialmente em regiões como como a África Subsariana, a Índia, o Médio Oriente e o Norte de África.
Cereais, tubérculos e raízes não verão crescimento de consumo, já que, em muitos países, estes produtos estão perto de atingir o ponto de saturação. O crescimento da procura por carne vai abrandar, devido a variações das preferências regionais e constrangimentos no rendimento disponível das populações. Outros produtos animais, como leite, terão, pelo contrário, um crescimento mais rápido.
Duas exceções notáveis ao abrandamento da procura serão o açúcar e os óleos vegetais. Isto porque o consumo per capita destes produtos vai crescer nos países em desenvolvimento, onde haverá mais procura por alimentos processados.
Europa Ocidental com menor produção
A agricultura mundial estará em mudança! Apesar da estagnação da procura de bens agrícolas, a produção agrícola global vai aumentar cerca de 20% na próxima década – mas com muitas diferenças entre regiões.
A África Subsariana, o Sudeste Asiático, o Médio Oriente e o Norte de África vão registar um crescimento forte na produção agrícola, enquanto que as regiões desenvolvidas, especialmente a Europa Ocidental, vão ter o menor crescimento.
Exportações na agricultura mundial: concentração e protecionismo
Nos próximos dez anos, as principais regiões exportadoras vão continuar a ser as Américas e a Oceânia – apesar da solidificação da emergência da Rússia e da Ucrânia no mercado dos cereais. Esta concentração poderá “aumentar a suscetibilidade dos mercados mundiais a perturbações no fornecimento.”
Outra preocupação que a FAO e a OCDE têm neste respeito é a ameaça do crescimento de políticas protecionistas a nível global. Neste sentido, deixam uma recomendação: “o comércio agrícola tem um papel importante na garantia de segurança alimentar, o que sublinha a necessidade de um panorama favorável no que toca a política comercial.”
A evolução dos preços dos principais produtos agrícolas até 2027. Fonte: OCDE/FAO
Médio Oriente e Norte de África mais dependentes das importações
No relatório deste ano, a FAO e a OCDE focam o Médio Oriente e Norte de África, pois são regiões onde “a procura crescente por alimentos e os limitados recursos de água e terra estão a levar a uma dependência cada vez maior de importações de produtos alimentares básicos.” Além disso, a segurança alimentar nestas regiões é ameaçada por conflitos e instabilidade política.
A produção agrícola e pesca nestas áreas deverão crescer 1,5% por ano, sobretudo através de melhorias na produtividade.
Agricultura de precisão pode melhorar produtividade agrícola
Se as previsões da FAO e da OCDE parecem desencorajadoras, a verdade é que as organizações admitem que “novas tecnologias como agricultura digital e de precisão ou novas técnicas de reprodução de plantas podem melhorar a produtividade agrícola para lá das taxas projetadas no relatório.”
O documento identifica as novas tecnologias agrícolas como ferramentas potenciadoras de mudanças em regiões específicas. É o caso da África Subsariana, onde “tecnologias como mecanização e irrigação têm o potencial de introduzir melhorias significativas na produtividade.”
Também no caso do Médio Oriente e do Norte de África, uma maior produtividade da agricultura – essencial perante a escassez de água e terreno agrícola destas regiões – “vai depender da inovação.”
O Agricultural Outlook aponta a Europa Oriental e a Ásia Central (que incluem Rússia, Ucrânia e Turquia) como regiões que beneficiaram de investimentos consideráveis na modernização do setor agrícola, tendo tido uma expansão rápida na última década.
Dietas vão ser menos saudáveis
A preocupação com a saúde é evidente no relatório da FAO e da OCDE. As organizações prevêm que o consumo per capita de açúcar e óleo vegetal cresça nos países em desenvolvimento, onde a urbanização vai aumentar a procura de comida processada.
“As mudanças nos níveis de consumo alimentar e na composição das dietas implica que a ‘tripla ameaça’ de subnutrição, sobrenutrição e má nutrição vai persistir nos países em desenvolvimento,” diz o relatório.
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