Sábado, Abril 27, 2024

Como prevenir o aparecimento da lepra do pessegueiro: o que deve saber

O pessegueiro é uma árvore de fruto amplamente cultivada por jardineiros e agricultores devido às suas deliciosas frutas. No entanto, infelizmente, esta árvore é suscetível a diversas doenças, incluindo a temida lepra do pessegueiro. Se está à procura de informações sobre como prevenir a lepra do pessegueiro e manter as suas árvores saudáveis, este artigo é para si. Também costuma a enfrentar este problema?

Em que consiste a lepra do pessegueiro?

A lepra do pessegueiro é uma doença que representa uma séria ameaça para pessegueiros e nectarinas, causando danos significativos a essas fruteiras. Embora também possa afetar amendoeiras e damasqueiros, o pessegueiro é especialmente suscetível a essa doença. Esta doença causada pelo fungo Taphrina deformans ocorre predominantemente em regiões com primaveras chuvosas, afetando áreas onde essas culturas são comuns.

Conhece o ciclo de vida da doença da lepra do pessegueiro

O Taphrina deformans hiberna na forma de ascósporos ou conídios, alojando-se entre as escamas dos gomos nos ramos que tiveram folhas com lepra no ano anterior. O processo de infeção inicia-se quando os gomos foliares começam a inchar. O clima frio e chuvoso que ocorre desde o início do inchamento do gomo até a emergência das folhas desempenha um papel crucial na intensidade da doença. Os esporos do fungo penetram nas folhas em desenvolvimento e outros órgãos, atravessando diretamente a cutícula ou os estomas. A infeção ocorre principalmente durante um curto período após a abertura dos gomos foliares, pois os órgãos tornam-se resistentes à infeção à medida que envelhecem. A germinação dos esporos não ocorre quando a temperatura está abaixo de 8°C-9°C ou acima de 26°C-30°C. A persistência de um período frio e húmido na primavera prolonga as infeções e a suscetibilidade das árvores.

Outras espécies de Taphrina também atacam diferentes espécies de Prunus, como a T. communis em várias variedades de Prunus, a T. pruni na ameixeira, a T. cerasi na cerejeira e a T. wiesneri na cerejeira e damasqueiro.

lepra do pessegueiro
Fonte: Nuno José Pinto disponível em: https://repositorio.ipcb.pt/bitstream/10400.11/1895/1/Mestrado%20NUNO_PINTO.pdf

Fatores que contribuem para o aparecimento do Taphrina deformans

A lepra do pessegueiro pode ser identificada por vários sintomas característicos. Os primeiros sinais incluem o aparecimento de manchas avermelhadas nas folhas, que podem espalhar-se rapidamente. Conforme a infeção progride, as manchas tornam-se mais pronunciadas, e o tecido afetado fica enrugado e deformado. Além das folhas, os frutos também são afetados pela doença (embora que de forma muito mais rara). A infeção causada por este fungo pode levar à queda prematura dos frutos, reduzindo significativamente a colheita.

Em suma, vários fatores podem contribuir para o aparecimento da lepra do pessegueiro. Alguns dos principais fatores incluem:

  1. Condições climáticas favoráveis: O fungo Taphrina deformans desenvolve-se melhor em condições de humidade e temperaturas moderadas. Regiões com clima húmido e temperaturas entre 10°C e 30°C são propícias para a proliferação do fungo.
  2. Falta de higiene: A falta de higiene adequada nas árvores de pessegueiro pode levar à propagação do fungo. A remoção adequada de folhas e frutos infetados é essencial para reduzir o risco de infeção.
  3. Árvores stressadas: Árvores de pessegueiro stressadas devido a condições inadequadas de cultivo, falta de nutrientes ou problemas de rega são mais suscetíveis à infeção por Taphrina deformans.

o que é a lepra do pessegueiro

Conhece os Sintomas Característicos desta doença

A principal vítima dessa doença é o sistema foliar das plantas, com poucos registros de afetação nos ramos ou frutos. O fungo responsável, Taphrina deformans, desencadeia uma série de alterações nas folhas. Inicialmente, as áreas afetadas adquirem uma coloração desbotada, mas logo se tornam mais espessas e começam a enrolar para baixo e para dentro, exibindo cores que variam de branco-amarelado a avermelhado. Com o tempo, as áreas afetadas tornam-se castanhas e quebradiças. Essas mudanças são causadas por alterações nas células do parênquima foliar, que aumentam de tamanho, acumulam pigmentos vermelhos nos vacúolos e perdem a clorofila. Em infecções mais avançadas, apenas partes das folhas são afetadas. Além disso, uma camada esbranquiçada, semelhante a feltro, formada pelos ascos livres (a fase reprodutiva sexual do fungo), pode cobrir a superfície superior das folhas. As folhas gravemente afetadas acabam tornando-se secas  e caem prematuramente, comprometendo o estado nutricional da árvore e prejudicando o desenvolvimento dos frutos.

Em alguns casos, os ramos jovens também são afetados, tornando-se mais espessos e atrofiados, podendo até morrer durante o verão. Geralmente, um ramo doente origina-se a partir de um gomo infetado. As infecções nos frutos são menos frequentes, embora as nectarinas possam desenvolver áreas descoradas, inchadas e verrucosas, resultando em crescimento mais lento e queda dos frutos menores.

 

Estratégias de Controlo para o aparecimento da lepra do pessegueiro

As medidas sanitárias e culturais têm limitações na eficácia do controlo dessa doença, uma vez que a maioria das cultivares de pêssego e nectarina é suscetível à lepra do pessegueiro. No entanto, alguns tratamentos preventivos  têm se mostrado eficazes:

  • O primeiro tratamento envolve a aplicação de produtos cúpricos assim que os gomos terminais começam a inchar, antes do início do estágio fenológico de ponta verde. Esse tratamento é crucial e deve ser repetido dentro de 24 horas se houver lavagem pela chuva.
  • O segundo tratamento é realizado no estágio C, quando os gomos incham, revelando o cálice, que possui uma borda esbranquiçada formada pelas sépalas do cálice. Nesse estágio, produtos contendo zirame, dodina ou difenoconazol são aplicados, especialmente se a primavera for fria e húmida, atrasando a abertura dos gomos. Assim como o primeiro tratamento, se produtos de contato forem usados, eles também devem ser reaplicados dentro de 24 horas em caso de chuva. Esse tratamento pode ser repetido sempre que o clima permanecer úmido ou chuvoso até o vingamento dos frutos. Sempre siga as normas de aplicação de produtos fitofarmacêuticos e leia os rótulos dos produtos, alternando as famílias químicas sempre que possível para evitar o desenvolvimento de resistência.

No contexto da agricultura biológica, o uso de fungicidas à base de enxofre é permitido a partir do início do inchamento dos gomos foliares e durante o período vegetativo.

Lembrando que todos os produtos e substâncias ativas mencionados neste artigo devem ser vericados regularmente, pois as autorizações de venda podem ser atualizadas, incluindo cancelamentos de produtos ou substâncias ativas. É essencial estar sempre atualizado sobre os produtos disponíveis e as práticas de controle mais eficazes para enfrentar a lepra do pessegueiro com sucesso.

Para consultar os produtos homolgados, verificar aqui.

tratamentos lepra do pessegueiro
Fonte:Textos de divulgação técnica da Estação de Avisos de Entre Douro e Minho nº 3/ 2012 (II Série) Março. Saiba mais sobre a lepra aqui

Melhores práticas para manter um pessegueiro saudável

A prevenção é a chave para proteger as suas árvores de pessegueiro contra a lepra. Eis algumas medidas preventivas eficazes que pode adotar:

  • Escolha de variedades resistentes: Opte por cultivar variedades de pessegueiros que sejam menos suscetíveis à lepra do pessegueiro. Estas variedades são mais resistentes ao fungo e têm uma maior probabilidade de combater a infeção.
  • Práticas de higiene adequadas: Mantenha as suas árvores de pessegueiro limpas e livres de folhas e frutos infetados. Remova qualquer material vegetal infetado e descarte-o adequadamente para evitar a propagação do fungo.
  • Fertilização e irrigação adequadas: Forneça às suas árvores de pessegueiro os nutrientes e a água necessários para um crescimento saudável. Árvores bem nutridas e adequadamente regadas são mais capazes de resistir à infeção por Taphrina deformans.

Práticas culturais para minimizar o risco de Taphrina deformans

Manter as suas árvores de pessegueiro saudáveis é fundamental para prevenir a lepra do pessegueiro. Eis algumas melhores práticas para garantir a saúde contínua das suas árvores:

  • Poda regular: Realize podas regulares para remover ramos e galhos mortos ou doentes. Isso ajudará a melhorar a circulação de ar e reduzir a humidade, diminuindo assim as hipóteses de infeção por Taphrina deformans.
  • Monitorização constante: Mantenha-se atento a qualquer sinal de infeção ou ‘stress’ nas suas árvores de pessegueiro. Realize inspeções regulares para detetar precocemente qualquer problema e tome medidas imediatas para o resolver.
  • Controlo de pragas: Mantenha as pragas sob controlo, pois podem enfraquecer as árvores e aumentar a suscetibilidade à infeção por Taphrina deformans. Utilize métodos de controlo de pragas adequados e seguros para garantir a saúde das suas árvores.
  • Rotação de culturas: Evite plantar pessegueiros no mesmo local todos os anos. A rotação de culturas ajuda a reduzir a acumulação de agentes patogénicos no solo, diminuindo, assim, as hipóteses de infeção.
  • Espaçamento adequado: Plante as suas árvores de pessegueiro com o espaçamento adequado para permitir uma boa circulação de ar. Isso ajudará a reduzir a humidade e a minimizar as condições favoráveis ao desenvolvimento do fungo.
  • Cobertura morta: Utilize cobertura morta ao redor das árvores de pessegueiro para reduzir o crescimento de plantas infestantes e a competição por nutrientes. Isso também ajuda a manter a humidade adequada no solo, evitando o stress hídrico nas árvores. Alternativas biológicas para a prevenção da Taphrina deformans Em casos de infeção severa por Taphrina deformans, pode ser necessário recorrer a controlos químicos para combater a doença. No entanto, é importante lembrar que o uso de produtos químicos deve ser feito com cuidado e seguindo as instruções do fabricante.
  • Fungicidas: Existem fungicidas disponíveis no mercado que podem ajudar a combater a lepra do pessegueiro. Consulte um especialista ou profissional de extensão agrícola para obter recomendações específicas para a sua região e variedade de pessegueiro.Saiba quais são esses fungicidas aqui.
  • Aplicação adequada: Certifique-se de aplicar os fungicidas de acordo com as instruções do fabricante. Siga corretamente a dosagem e o intervalo de aplicação recomendados para obter os melhores resultados.
  • Segurança e proteção: Utilize equipamento de proteção individual, como luvas e máscaras, ao manusear produtos químicos. Mantenha-se informado sobre as regulamentações e restrições locais para o uso de fungicidas.
  • Tratamentos com microrganismos benéficos: Alguns microrganismos benéficos, como bactérias e fungos, podem ajudar a suprimir a infeção por Taphrina deformans. Estes microrganismos competem com o fungo, impedindo o seu crescimento e disseminação.
  • Métodos de controlo biológico: O uso de predadores naturais ou parasitas que atacam o fungo pode ser uma opção viável para o controlo da lepra do pessegueiro. Consulte um especialista em controlo biológico para obter recomendações específicas para a sua região e situação.
  • Práticas de gestão integrada de pragas: Adote um sistema de gestão integrado de pragas que combine diferentes estratégias de controlo, como controlo biológico, cultural e químico. Isso ajudará a manter o equilíbrio ecológico e reduzir a dependência de produtos químicos.

Prevenir lepra do pessegueiro

Informação Adicional Importante:

  1. Época de Tratamento: Para um controlo eficaz da lepra do pessegueiro, é fundamental aplicar tratamentos preventivos durante o período de dormência das árvores, antes da rebentação na primavera. Isto ajuda a interromper o ciclo de vida do fungo e a prevenir a infeção.
  2. Variedades Resistentes em Portugal: Em Portugal, algumas variedades de pessegueiros têm mostrado resistência à lepra do pessegueiro. Consulte um viveirista ou especialista local para saber quais são as variedades mais adequadas à sua região.
  3. Monitorização Climática: Esteja atento às condições climáticas na sua região, pois as condições húmidas e moderadamente quentes são propícias ao desenvolvimento da Taphrina deformans. Mantenha registos das condições meteorológicas para determinar o momento ideal para a aplicação de tratamentos preventivos.
  4. Apoio Profissional: Em caso de infeção grave ou dúvidas sobre o controlo da lepra do pessegueiro, não hesite em procurar aconselhamento de um agrónomo ou especialista em fruticultura. Estes profissionais podem fornecer orientações específicas para a sua situação e região.

Gostou de saber esta informação sobre a lepra do pessegueiro? conte-me nos comentários que estratégias costuma seguir para prevenir e tratar este problema fúngico.

acientistaagricola
acientistaagricolahttp://acientistaagricola.pt
Olá, sou a Rosa. Nasci e cresci em meio rural e desde cedo percebi o que queria fazer para o resto da vida. Mais tarde, quando entrei no ensino superior tornei-me Técnica Superior do Ambiente e Agrónoma, áreas que sempre me fascinaram. Este blog é mais do que um projecto pessoal...é  o culminar de duas paixões: a escrita e as ciências ambientais e agrárias. Este é um local de encontro entre todos aqueles que partilham destas mesmas paixões. 

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